São Paulo, Terça-feira, 29 de Junho de 1999
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Máfia da propina derruba Viscome, 1º vereador cassado pela Câmara de SP

Rubens Cavallari/Folha Imagem
Já cassado, Vicente Viscome (sem partido) é levado da Câmara Municipal com escolta de policiais militares para a delegacia onde está preso


Plenário considerou que ele era culpado das 5 acusações

Apenas 14 dos 52 vereadores optaram pela "absolvição"

Viscome disse não ter feito nada que outros não fizessem

Garib vai ser julgado hoje pela Assembléia Legislativa



OTÁVIO CABRAL
ROGÉRIO GENTILE

da Reportagem Local

Em decisão inédita e histórica, a Câmara Municipal de São Paulo cassou o vereador Vicente Viscome (expulso do PPB). É a primeira vez que um parlamentar paulistano perde o mandato por decisão de seus colegas.
Viscome foi considerado culpado nas cinco acusações que foram produzidas pela CPI da máfia da propina:
a) utilização do mandato de vereador para obtenção de vantagens financeiras indevidas;
b) uso do servidor público Vladimir Augusto Ferreira, contratado pelo Anhembi, em comitê político particular;
c) influência sobre o administrador regional da Penha para que faixas com propaganda política ilegal não fossem retiradas das ruas;
d) descumprimento de ordem de prisão temporária decretada pela Justiça de São Paulo e
e) não-comparecimento a duas sessões da CPI para as quais havia sido convocado a depor como acusado.
O vereador cassado teve no máximo o voto de 14 dos 52 vereadores que puderam votar ontem. Como a votação foi secreta, não é possível dizer como cada um votou.
A sessão que expulsou Viscome da Câmara Municipal durou cerca de sete horas. Antes mesmo do início da votação, o advogado dele, Ademar Gomes, já admitia a derrota. "Eles (os vereadores) nem estão ouvindo a exposição da defesa. Estão intimidados, acovardados. O destino do Vicente (Viscome) é ser bode expiatório", afirmou Gomes, que vai recorrer à Justiça.
Com a decisão do plenário, Viscome não pode mais sair da cadeia, já que tinha uma autorização judicial para deixar a prisão e comparecer às sessões da Câmara.
Viscome permaneceu sentado e calado durante praticamente todo o tempo. Levantou-se apenas quando foi chamado a se defender na tribuna. Disse que é inocente e que não havia praticado nada que os seus colegas também não tivessem feito.
Com olhar cabisbaixo, apenas coçou a barba quando -minutos antes da contagem dos votos- as pessoas que estavam na galeria começaram a cantar "ai, ai, ai, ai. Tá chegando a hora...", em alusão aos seus últimos momentos como vereador.


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