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Fidel, Ciro e os homens com H maiúsculo
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Ciro Gomes está para Ronaldinho à medida que são os solteiros mais cobiçados em suas
áreas hoje. Ronaldinho é um
menino tolo, que substituiu logo a mulher por uma Ferrari.
No mundo frívolo do esporte,
da gente mais tapada e reacionária que a mídia já produziu,
o negócio é exibir: mulher, carro, megassalário.
Um show de estupidez: Ronaldinho entrevistado pela ex-jogadora Hortência, na TV.
Constrangia: era a burrice arrogante da mulher contra a
burrice ingênua do jogador.
Mas eu ia falar de Ciro Gomes
e derivei-me para o esporte. É
que, no Brasil, um campo (a
política) lembra outro (o futebol). Em ambos predominam a
conduta pessoal equivocada,
valores invertidos, imoralidade, interesses escusos, corrupção, truculência.
Agora o caso Ciro Gomes, o
político paulista-cearense em
quem dá até vontade de acreditar. Toda vez que o vejo falar,
admira-me que ele: 1) seja apenas um pouco mais velho do
que eu (ele tem 41 anos); 2) fale
português muito bem, coisa
que político brasileiro não faz;
3) demonstre conhecer a alma
nacional; 4) enumere os problemas do país em quatro ou
cinco doenças crônicas, para as
quais ele diz ter a solução.
Não bastasse tudo isso, Ciro
Gomes ainda parece ser gente
como a gente: divorciado, solteiro, descrente da experiência
do casamento. No lugar do cinismo polido de Fernando
Henrique, ele demonstra uma
espontaneidade temperamental que lembra honestidade.
Mas quem garante? Como
acreditar num político brasileiro hoje, num país em que a
"democracia" política é usada
para ocultar a falta de democracia econômica? Em que as
instituições políticas estão a favor dos interesses das elites econômicas, dos lobbies?
O poder é a mais nojenta das
instâncias sociais. No Brasil,
estará por décadas associado
ao macho ganancioso e desonesto, às oligarquias brancas
de São Paulo, da Bahia ou do
Ceará (tanto faz), ao tanto de
dinheiro ou de Ferraris que o
macho exiba, ao número de
mulheres com quem ele transe.
É esse o pensamento do capital, do poder-sobre, perpetuado pelo neoliberalismo de carteirinha. A propósito disso:
uma notícia no jornal de domingo dizia que Fidel Castro (e
não o premiê italiano Massimo
D'Alema) é quem estaria hospedado na suíte presidencial
do hotel Othon Palace, no Rio,
apesar de o PIB cubano ser
muito menor do que o italiano,
ou seja, apesar de D'Alema ser
muito mais rico!
O critério do jornalista era
econômico! Ora, de todos esses
políticos reunidos na cúpula do
Rio, só Fidel Castro fez história
e merece ovação. O único que
ficará na memória desta civilização como um homem com H,
que teve peito para trabalhar
pelo povo explorado de Cuba,
que dividiu terra, saúde e educação.
Antes o autoritarismo declarado do uniforme de Fidel Castro do que o coronelismo, o despotismo dissimulado no terno e
gravata de Antonio Carlos Magalhães. A ditadura cubana
tem mais méritos do que a falsa
democracia de Fernando Henrique Cardoso.
No mês de julho, não haverá
coluna. Estarei de férias.
E-mail: mfelinto@uol.com.br
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