São Paulo, Terça-feira, 29 de Junho de 1999
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SAÚDE
Falta de cuidados preventivos e de barreiras sanitárias deixam a cidade exposta a epidemias
Araçatuba serve de porta para doenças

EDMILSON ZANETTI
da Agência Folha, em São José do Rio Preto

Por razões que vão da migração sazonal de bóias-frias à falta de tratamento do lixo, a região de Araçatuba (532 km a noroeste de SP) tem sido a porta de entrada de doenças em São Paulo.
Depois de registrar o primeiro caso de dengue no Estado, há 12 anos, a região agora é responsável por uma epidemia de leishmaniose visceral. Em menos de um ano, a doença atingiu mais de 1.200 cães em 16 municípios, contaminou três pessoas e matou uma.
Especialistas em epidemiologia apontam as razões para explicar o fenômeno. Uma delas é a proximidade geográfica com o Centro-Oeste, região que historicamente convive com doenças endêmicas.
"O fato de ter uma rodovia ligando Estados, tanto no caso do homem como no do cão, facilita o trânsito da doença", diz a diretora clínica do Instituto Pasteur de São Paulo, Rosana Panachão, 44, especialista em raiva.
"Aqui chegam ônibus de todos os lados, do Paraguai, da Bolívia. Não vai ser surpresa se amanhã surgir algum caso de malária", afirma o diretor da DIR-6 (Direção Regional de Saúde), Armando Salineiro. Ele critica a ausência de barreiras sanitárias nas rodovias.
Para o diretor, a migração sazonal de mão-de-obra rural é outro importante agente de transmissão.
Tido como um dos maiores pesquisadores de parasitas e epidemias do país, o professor Almério de Castro Gomes, 57, da Faculdade de Saúde Pública da USP, aponta a degradação ambiental como principal causa dessas doenças.
No caso da leishmaniose, ele diz que provavelmente o mosquito transmissor, o Lutzomia longipalpis, já vivesse na região de uma forma primitiva. Alguma alteração ambiental deve ter criado condições favoráveis para sua adaptação. Como exemplo, cita o lixo.
A patologista Maria Cecília Luvizotto, supervisora do hospital veterinário da Unesp local, lembra que o município ficou três meses sem coleta de lixo em 1997. Uma população de 160 pessoas jogava nas ruas lixo orgânico -principal alimento e habitat para o Lutzomia longipalpis. Coincidência ou não, nesse período a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) detectou o primeiro foco do mosquito na cidade.
Mais um dado que favorece a disseminação da doença: Araçatuba tem uma população canina estimada em 40 mil -um cão para quatro habitantes.
Segundo a pesquisadora da Unesp, a OMS (Organização Mundial da Saúde) sugere no máximo um cão para cada dez moradores como um limite saudável.



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