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SAÚDE
Falta de cuidados preventivos e de barreiras sanitárias deixam a cidade exposta a epidemias
Araçatuba serve de porta para doenças
EDMILSON ZANETTI
da Agência Folha, em São José do Rio Preto
Por razões que vão da migração
sazonal de bóias-frias à falta de tratamento do lixo, a região de Araçatuba (532 km a noroeste de SP) tem
sido a porta de entrada de doenças
em São Paulo.
Depois de registrar o primeiro
caso de dengue no Estado, há 12
anos, a região agora é responsável
por uma epidemia de leishmaniose visceral. Em menos de um ano, a
doença atingiu mais de 1.200 cães
em 16 municípios, contaminou
três pessoas e matou uma.
Especialistas em epidemiologia
apontam as razões para explicar o
fenômeno. Uma delas é a proximidade geográfica com o Centro-Oeste, região que historicamente
convive com doenças endêmicas.
"O fato de ter uma rodovia ligando Estados, tanto no caso do homem como no do cão, facilita o
trânsito da doença", diz a diretora
clínica do Instituto Pasteur de São
Paulo, Rosana Panachão, 44, especialista em raiva.
"Aqui chegam ônibus de todos
os lados, do Paraguai, da Bolívia.
Não vai ser surpresa se amanhã
surgir algum caso de malária",
afirma o diretor da DIR-6 (Direção
Regional de Saúde), Armando Salineiro. Ele critica a ausência de
barreiras sanitárias nas rodovias.
Para o diretor, a migração sazonal de mão-de-obra rural é outro
importante agente de transmissão.
Tido como um dos maiores pesquisadores de parasitas e epidemias do país, o professor Almério
de Castro Gomes, 57, da Faculdade
de Saúde Pública da USP, aponta a
degradação ambiental como principal causa dessas doenças.
No caso da leishmaniose, ele diz
que provavelmente o mosquito
transmissor, o Lutzomia longipalpis, já vivesse na região de uma
forma primitiva. Alguma alteração ambiental deve ter criado condições favoráveis para sua adaptação. Como exemplo, cita o lixo.
A patologista Maria Cecília Luvizotto, supervisora do hospital veterinário da Unesp local, lembra
que o município ficou três meses
sem coleta de lixo em 1997. Uma
população de 160 pessoas jogava
nas ruas lixo orgânico -principal
alimento e habitat para o Lutzomia longipalpis. Coincidência ou
não, nesse período a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) detectou o primeiro foco do
mosquito na cidade.
Mais um dado que favorece a disseminação da doença: Araçatuba
tem uma população canina estimada em 40 mil -um cão para
quatro habitantes.
Segundo a pesquisadora da
Unesp, a OMS (Organização Mundial da Saúde) sugere no máximo
um cão para cada dez moradores
como um limite saudável.
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