São Paulo, sábado, 29 de julho de 2000


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SEGURANÇA PÚBLICA
Ladrões usam técnicas sofisticadas; polícia suspeita de que quadrilha já tenha agido em assaltos a bancos
Assaltantes não deixam pistas do roubo

DA REPORTAGEM LOCAL

Os ladrões eram todos Joões (um chamava o outro apenas por João), usavam luvas cirúrgicas e gorros na cabeça. Esse foi o jeito encontrado pela quadrilha para não deixar pistas para a polícia.
De uma vez, impediram que os moradores do Vila América descobrissem seus nomes, dificultaram a identificação de impressões digitais e o reconhecimento no caso de prisão após a fuga.
A ação foi tão organizada que ontem os policiais desconheciam em quantos veículos os assaltantes chegaram ao prédio. Por isso, não houve perseguição após a comunicação do roubo.
Vizinhos que perceberam a movimentação estranha dentro do prédio teriam avisado a polícia pelo telefone, registrado às 4h40.
A quadrilha tratou ainda de não deixar rastro durante a fuga. Dos três carros levados, dois foram encontrados pelos policiais horas após o assalto, em lados opostos da cidade e distantes.
A Mercedes de um dos moradores apareceu por volta das 7h, dentro de um condomínio de classe média-alta no Parque São Domingos, região de Pirituba (zona noroeste de São Paulo). ""Desconfiei do carro porque o vidro estava aberto, e a chave estava no contato. Fora isso, esse tipo de carro é comum aqui", disse o soldado Cleber Willian Pereira dos Santos, que achou o veículo.
O carro tipo Gol levado de um dos funcionários do condomínio só apareceu no final da tarde, na região de São Mateus (zona sudeste da capital).
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo avaliou ontem que o arrastão no prédio da alameda Franca faz parte de uma nova modalidade de operação de ex-assaltantes de bancos.
Essas quadrilhas de bancos teriam mudado de modalidade em razão das dificuldades da ação. Os bancos, por exemplo, aumentaram os investimentos em sistema de proteção.
O perfil dos assaltantes de bancos coincide com o dos autores do arrastão: são grandes grupos bem organizados, com sistema de comunicação eletrônica, usam armamentos pesados e só praticam roubos bem planejados.
O secretário da Segurança Pública, Marco Vinício Petrelluzzi, não comentou o caso. Sua assessoria informou que ele está aberto a discutir com os moradores de prédios e com a polícia medidas de combate a esse tipo de crime.

Tese
A polícia trabalha com a hipótese de que a quadrilha tenha infiltrado algum funcionário no prédio e deve convocar todos, inclusive ex-funcionários, para depor.
Uma das moradoras, que pediu para não ser identificada, disse que foi rendida quando desceu de seu apartamento, imaginando que estivesse sendo acionada por funcionários do prédio. Ela afirmou que não tem idéia de como os ladrões conseguiram entrar e que mora nesse prédio principalmente porque teme assaltos.
Os visitantes que chegam ao condomínio precisam se identificar por um interfone instalado ao lado do portão.
Não há contato direto com os funcionários. O porteiro fica à distância, protegido por um sistema de câmeras de TV e vidro à prova de balas.
Até encomendas e cartas têm entrada específica. Passam por gavetas e aberturas na parede da portaria, a exemplo do que ocorre em cadeias.
""Se conseguiram entrar nesse, imagina se não irão voltar para entrar em outros prédios", disse um morador vizinho que não quis se identificar. (ALESSANDRO SILVA E SORAYA AGÉGE)


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