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MEDICAMENTOS
Laboratórios têm motivos para aceitar acordo, como o compromisso de discussão da carga tributária
Governo aposta em eleição para conter preço
RUI NOGUEIRA
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo conta com a pressão
típica de anos eleitorais para impor à indústria farmacêutica o
que não conseguiu até hoje: o
controle do preço dos remédios
-não o congelamento, não o tabelamento. E espera que a pressão
do ministro José Serra (Saúde), de
volta ao ministério na segunda-feira, depois de uma viagem à Índia, feche em definitivo o acordo.
O ano eleitoral no controle de
preços é importante:
a) interessa a homens políticos
como o ministro e candidato Serra, a governador de São Paulo, no
mínimo, e ao próprio FHC, que
vive um inferno astral com a crise
Eduardo Jorge-juiz Nicolau-obra
TRT/SP;
b) ano eleitoral ajuda a constranger os laboratórios, sacos de
pancada sempre à mão nos palanques. Já se desgastaram o bastante
durante a CPI dos Medicamentos.
A intenção de fazer um acordo
de controle dos preços dos remédios é toda do Ministério da Saúde. O Ministério da Fazenda, com
o secretário Cláudio Considera
(Acompanhamento Econômico)
no assunto, vai a reboque da pressão de Serra.
No Ministério da Fazenda, é
bem-vista a idéia de que não se esteja forçando um congelamento
ou tabelamento -o que seria
uma típica intervenção do governo no mercado, política abandonada desde o Plano Real e sempre
lembrada pela ação quixotesca
desde os tempos da caça ao boi no
pasto, no Plano Cruzado do governo Sarney (85-89).
Mas a Fazenda só caminha empurrada pela Saúde -a vontade
estrita da equipe econômica é no
sentido de entender os preços dos
remédios como qualquer outro
preço de produto vendido livremente no mercado.
Para a Saúde, remédio não é um
produto qualquer. Diferente dos
alimentos, com várias alternativas
de preços e de produtos, o medicamento para o coração receitado
pelo médico não serve para o rim
e o do rim não serve para o coração. Mesmo nos preços, a alternativa de compra de remédios é
muito pequena, se comparada
com a dos alimentos.
Essa visão, de controle do preço
dos remédios, depois da CPI dos
Medicamentos, ganhou a simpatia também do Planalto. Foi por
isso que, mesmo com José Serra
em viagem à Índia, Fernando
Henrique patrocinou o anúncio
oficial de que o governo e os laboratórios haviam chegado a um
protocolo de intenções.
A intenção é: os preços em vigor
no dia 1º de junho não sofrerão
aumentos até 31 de dezembro. Os
laboratórios estão aderindo, mas,
só na próxima semana, será conhecido o tamanho da adesão e a
importância para o consumidor.
Três explicações básicas para a
indústria farmacêutica começar a
aceitar o protocolo de intenções:
a) ela sabe que o governo não
vai desistir, pelo menos neste ano
eleitoral, de uma "política regulatória dos preços";
b) o governo deixou claro que
não baixaria nenhuma medida
em direção a um congelamento
ou tabelamento;
c) os laboratórios têm o compromisso de que discutirão com o
governo a atual carga tributária.
Segundo a Abifarma, o ICMS representa 22% do preço final dos
remédios.
Por mais de uma vez, os representantes dos laboratórios ouviram técnicos da equipe econômica admitir que o Brasil tem um
"sistema tributário agressivo em
relação aos medicamentos", o que
prejudica o consumidor.
Reconheceram também que a
"mãe da falsificação dos remédios
é a excessiva tributação".
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