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SEGURANÇA
Comissão de Direitos Humanos da Assembléia de SP vai convocar o secretário para explicar infiltração de presos
OAB vai pedir investigação de setor da PM
ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil) de São Paulo disse ontem estar ""estarrecida" com os
métodos de ação do serviço de inteligência da Polícia Militar, revelados pela Folha, e adiantou que
pedirá abertura de investigação à
Secretaria da Segurança Pública.
A entidade vai apurar ainda a
conduta do juiz que autorizou a
saída dos presos para missões.
Segundo o presidente da Comissão de Direitos da entidade no
Estado, João José Sady, a OAB já
investigava em sigilo a atuação do
grupo, motivada pela ação de Sorocaba em que morreram 12 supostos integrantes do PCC.
De julho de 2001 a abril deste
ano, o Gradi/PM (Grupo de Repressão e Análise de Delitos de Intolerância) recrutou ao menos
cinco presos para infiltrá-los em
quadrilhas supostamente ligadas
ao PCC. Nesse período, o setor
acumulou 22 mortes em três
ações -incluindo a de um informante-, uma suspeita de tortura
e uma acusação de ameaça a juiz.
O grupo, subordinado diretamente ao gabinete da Secretaria
da Segurança Pública, fugiu de
sua função inicial, que era a de investigar racismo e discriminação.
""Se fosse somente a questão da
infiltração com presos, já teríamos feito a denúncia. O problema
está em outros fatos que envolvem as operações", afirmou Sady.
Ele disse ter recebido informações
de que o Gradi/PM teria fornecido parte das armas apreendidas
na ação no pedágio de Sorocaba
ao ""plantar" o alvo do assalto.
Em tese, diz ele, os outros PMs
envolvidos na ação não sabiam
disso. Partiu do Gradi a ordem
para atacar o comboio.
Sady espera ter em mãos hoje
um parecer jurídico sobre a legalidade das autorizações judiciais
que permitiram a saída dos presos. Dependendo da avaliação, a
OAB fará uma representação no
Tribunal de Justiça contra o juiz-corregedor dos presídios de São
Paulo, Octávio Augusto Machado
de Barros Filho, que autorizava os
pedidos da PM.
O juiz disse à Folha na última
quarta-feira que não sabia que
eles eram usados em infiltrações e
que suspendeu a operação em
abril, após denúncia de tortura
feita por presos.
Sady criticou o Ministério Público por não ter providenciado
proteção especial aos dois presos
supostamente torturados pelo
Gradi, que relataram, em abril,
detalhes das ações da PM. A comissão deve recorrer ao Ministério da Justiça para pedir proteção.
Na última sexta-feira, a Procuradoria Geral de Justiça informou
ter pedido proteção aos detentos
com a abertura de inquérito sobre
o suposto caso de tortura.
""O que o Gradi fez mostra uma
roupagem modernizante dos velhos métodos do regime militar,
que envolviam tortura, dissimulação, manipulação do Judiciário
e de outras instituições públicas",
afirmou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, Renato Simões. Ele deve encaminhar hoje ofício convidando o secretário da Segurança
Pública, Saulo de Castro Abreu
Filho, para falar aos deputados
das operações do Gradi/PM.
As ações da PM também serão
investigadas por membros da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara Federal. Os deputados
Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e Orlando Fantazini (PT-SP),
presidente da comissão, vão cobrar explicações do governo paulista e do Ministério da Justiça.
A atuação do Gradi/PM pode
ser apurada ainda pela CPI do Sistema Prisional da Assembléia. O
deputado Wagner Lino (PT), sub-relator na área de falhas do sistema, vai propor que a comissão investigue o recrutamento.
"O caso é de retirada de preso
para finalidade ilegal em troca de
regalias, que tem tudo a ver com o
objeto da CPI", disse Lino. O primeiro passo será pedir os documentos sigilosos das ações do
Gradi/PM. "Sabemos de três
ações. Mas podem ser muitas
mais", afirmou.
Entidades de direitos humanos
também vão pressionar o secretário Abreu Filho sobre as operações do grupo. O Movimento Nacional de Direitos Humanos deve
marcar esta semana uma reunião
para tentar convocar uma audiência com o secretário.
Ontem, a assessoria da Secretaria da Segurança, em nota oficial,
defendeu as ações da polícia.
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