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ABASTECIMENTO
Estiagem baixa o nível da Guarapiranga e pode cortar ajuda da Billings
Sabesp já cogita racionamento para 3,5 milhões
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o nível da represa Billings não
parar de diminuir até a primeira
metade de outubro, o bombeamento de água do braço Taquacetuba (um dos formadores do reservatório) para a represa Guarapiranga será impossibilitado, o
que pode provocar um racionamento de água em novembro para 3,5 milhões de moradores da
zona sul de São Paulo.
O consumo da água da Billings
começou há três anos e é fundamental para o abastecimento da
capital paulista porque funciona
como uma importante ajuda para
a Guarapiranga. Regularmente,
são 3.600 litros por segundo a
mais que chegam ao reservatório
-o que diminui o seu ritmo de
esvaziamento e garante a manutenção da produção -mesmo
em épocas de estiagem, como a
que acontece atualmente.
O atraso no início do bombeamento em 2000, por problemas financeiros, chegou a ser apontado
como determinante na implantação do racionamento que, naquele ano, durou quatro meses.
"O [sistema] Guarapiranga não
entrou ainda em racionamento
somente porque tem a reversão
do Taquacetuba. Se ela deixar de
ser possível, aumenta muito a
possibilidade de corte de água",
afirma o superintendente da Unidade de Produção de Água da Sabesp (Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo),
Paulo Massato.
A captação no Taquacetuba é
feita por bombas flutuantes, que
estão hoje a um metro do seu limite de funcionamento. O problema é que o nível do rio vem
caindo, em média, 0,01 m por dia
-o que significa que, mantido o
ritmo, em cem dias o bombeamento terá de parar.
"Mas trabalhamos com o prazo
de 80 dias porque, quanto mais
próximo do fundo se chega, mais
rápido se dá o esvaziamento", diz
Massato. "A primeira quinzena
de outubro será o momento crítico para a gente decidir se adota ou
não o racionamento em novembro", afirma o superintendente.
Para que a medida radical não
seja necessária, Massato diz contar apenas com "são Pedro". Mas
ele próprio ressalta que o atraso
no período chuvoso, que começa,
a rigor, em outubro, e as precipitações abaixo da média histórica
têm sido regra nos últimos anos.
E, nesse caso, a garoa que atinge
a Grande São Paulo desde o início
da semana não tem nenhum efeito. Desde segunda-feira, o nível da
Guarapiranga já caiu 0,8 ponto
percentual (o equivalente a 1,5 bilhão de litros), chegando a 33,6%
da capacidade máxima -quase
oito pontos percentuais mais baixo do que o nível em que a represa
se encontrava quando teve racionamento decretado em 2000. A
velocidade de esvaziamento do
Taquacetuba não foi alterada.
A previsão do tempo para os
próximos três meses também não
é muito otimista: de acordo com o
Cptec/Inpe (Centro de Previsão
de Tempo e Estudos Climáticos
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), as chuvas ficarão ligeiramente abaixo da média no
próximo trimestre na região Sudeste. E essa já é a realidade vivida
no mês de agosto. Na área de mananciais da Guarapiranga, por
exemplo, a chuva acumulada é a
metade do esperado.
Flotação
A conjuntura do "ou chove ou
falta água" serve como justificativa para que a Sabesp faça sua defesa do processo de flotação do rio
Pinheiros, que, se autorizado pela
Justiça, permitiria o bombeamento de 10 mil litros por segundo para a represa Billings, suficientes
para garantir a manutenção da
transferência de água do Taquacetuba para a Guarapiranga.
"É preciso acabar com a resistência ideológica à flotação. Se ela
já estivesse funcionando em escala piloto, a dependência de chuva
seria muito menor", diz Massato.
Mas a flotação continua proibida por uma liminar conseguida
pelo Ministério Público, que entrou com uma ação contra o processo. No início do mês, o Tribunal de Justiça negou o primeiro
recurso da Secretaria de Estado
dos Recursos Hídricos e Energia,
que já entrou com um segundo, a
ser julgado até setembro.
Embora a ameaça de racionamento não entre na justificativa
do governo para a liberação da
flotação, o fator emergência é usado. Uma das situações que poderiam ser melhoradas pela limpeza
e consequente bombeamento do
Pinheiros para a Billings é a espuma de poluição que, todo inverno,
invade as ruas da cidade de Pirapora do Bom Jesus (Grande SP),
sustenta a defesa do Estado.
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