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São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003

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ABASTECIMENTO

Estiagem baixa o nível da Guarapiranga e pode cortar ajuda da Billings

Sabesp já cogita racionamento para 3,5 milhões

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o nível da represa Billings não parar de diminuir até a primeira metade de outubro, o bombeamento de água do braço Taquacetuba (um dos formadores do reservatório) para a represa Guarapiranga será impossibilitado, o que pode provocar um racionamento de água em novembro para 3,5 milhões de moradores da zona sul de São Paulo.
O consumo da água da Billings começou há três anos e é fundamental para o abastecimento da capital paulista porque funciona como uma importante ajuda para a Guarapiranga. Regularmente, são 3.600 litros por segundo a mais que chegam ao reservatório -o que diminui o seu ritmo de esvaziamento e garante a manutenção da produção -mesmo em épocas de estiagem, como a que acontece atualmente.
O atraso no início do bombeamento em 2000, por problemas financeiros, chegou a ser apontado como determinante na implantação do racionamento que, naquele ano, durou quatro meses.
"O [sistema] Guarapiranga não entrou ainda em racionamento somente porque tem a reversão do Taquacetuba. Se ela deixar de ser possível, aumenta muito a possibilidade de corte de água", afirma o superintendente da Unidade de Produção de Água da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Paulo Massato.
A captação no Taquacetuba é feita por bombas flutuantes, que estão hoje a um metro do seu limite de funcionamento. O problema é que o nível do rio vem caindo, em média, 0,01 m por dia -o que significa que, mantido o ritmo, em cem dias o bombeamento terá de parar.
"Mas trabalhamos com o prazo de 80 dias porque, quanto mais próximo do fundo se chega, mais rápido se dá o esvaziamento", diz Massato. "A primeira quinzena de outubro será o momento crítico para a gente decidir se adota ou não o racionamento em novembro", afirma o superintendente.
Para que a medida radical não seja necessária, Massato diz contar apenas com "são Pedro". Mas ele próprio ressalta que o atraso no período chuvoso, que começa, a rigor, em outubro, e as precipitações abaixo da média histórica têm sido regra nos últimos anos.
E, nesse caso, a garoa que atinge a Grande São Paulo desde o início da semana não tem nenhum efeito. Desde segunda-feira, o nível da Guarapiranga já caiu 0,8 ponto percentual (o equivalente a 1,5 bilhão de litros), chegando a 33,6% da capacidade máxima -quase oito pontos percentuais mais baixo do que o nível em que a represa se encontrava quando teve racionamento decretado em 2000. A velocidade de esvaziamento do Taquacetuba não foi alterada.
A previsão do tempo para os próximos três meses também não é muito otimista: de acordo com o Cptec/Inpe (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), as chuvas ficarão ligeiramente abaixo da média no próximo trimestre na região Sudeste. E essa já é a realidade vivida no mês de agosto. Na área de mananciais da Guarapiranga, por exemplo, a chuva acumulada é a metade do esperado.

Flotação
A conjuntura do "ou chove ou falta água" serve como justificativa para que a Sabesp faça sua defesa do processo de flotação do rio Pinheiros, que, se autorizado pela Justiça, permitiria o bombeamento de 10 mil litros por segundo para a represa Billings, suficientes para garantir a manutenção da transferência de água do Taquacetuba para a Guarapiranga.
"É preciso acabar com a resistência ideológica à flotação. Se ela já estivesse funcionando em escala piloto, a dependência de chuva seria muito menor", diz Massato.
Mas a flotação continua proibida por uma liminar conseguida pelo Ministério Público, que entrou com uma ação contra o processo. No início do mês, o Tribunal de Justiça negou o primeiro recurso da Secretaria de Estado dos Recursos Hídricos e Energia, que já entrou com um segundo, a ser julgado até setembro.
Embora a ameaça de racionamento não entre na justificativa do governo para a liberação da flotação, o fator emergência é usado. Uma das situações que poderiam ser melhoradas pela limpeza e consequente bombeamento do Pinheiros para a Billings é a espuma de poluição que, todo inverno, invade as ruas da cidade de Pirapora do Bom Jesus (Grande SP), sustenta a defesa do Estado.


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