São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2005

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DEPOIMENTO

"Não acho antiético aceitar viagens"

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a seguir o depoimento de um médico de São Paulo, que não quis se identificar, contando como se relaciona com os laboratórios: (CC)

"Não me envergonho nem considero antiético aceitar convites de viagens ou presentes de laboratórios. Vou pelo menos duas vezes ao ano a congressos no exterior, nos EUA e na Europa, muitas vezes na companhia da minha mulher, que adora passear e fazer compras.
O laboratório que me convida financia as passagens e as despesas com estadia, alimentação e transporte. Quando apresento algum paper [trabalho científico], recebo uma quantia em dinheiro. Dá trabalho preparar as apresentações e acho justo ser remunerado por elas. Não vejo mal algum.
Não estou roubando nem lesando ninguém. Se esses convites acontecem, é porque tenho credibilidade e sou formador de opinião. Se não fosse a indústria farmacêutica, não seria tão atualizado como sou hoje.
Se a medicina brasileira está "up-to-date" é graças à indústria farmacêutica, não aos órgãos públicos responsáveis pela promoção e financiamento da pesquisa. Acho muita hipocrisia meia dúzia de médicos levantarem a bandeira da moralidade contra os laboratórios. Queria ver o que aconteceria com a medicina se eles retirassem todo o apoio que dão.
Também não vejo mal algum em receitar um medicamento de um laboratório parceiro desde que tenha a eficácia comprovada. Você vai me dizer: e o preço, doutor? Eu digo: não é por uma diferença de R$ 30, R$ 40 que meus pacientes vão deixar de tomar. Seria diferente se minha clientela fosse do SUS ou de baixo poder aquisitivo. Não é o caso."

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