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DEPOIMENTO
"Não acho antiético aceitar viagens"
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia a seguir o depoimento de
um médico de São Paulo, que não
quis se identificar, contando como se relaciona com os laboratórios: (CC)
"Não me envergonho nem considero antiético aceitar convites
de viagens ou presentes de laboratórios. Vou pelo menos duas vezes ao ano a congressos no exterior, nos EUA e na Europa, muitas
vezes na companhia da minha
mulher, que adora passear e fazer
compras.
O laboratório que me convida
financia as passagens e as despesas com estadia, alimentação e
transporte. Quando apresento algum paper [trabalho científico],
recebo uma quantia em dinheiro.
Dá trabalho preparar as apresentações e acho justo ser remunerado por elas. Não vejo mal algum.
Não estou roubando nem lesando ninguém. Se esses convites
acontecem, é porque tenho credibilidade e sou formador de opinião. Se não fosse a indústria farmacêutica, não seria tão atualizado como sou hoje.
Se a medicina brasileira está
"up-to-date" é graças à indústria
farmacêutica, não aos órgãos públicos responsáveis pela promoção e financiamento da pesquisa.
Acho muita hipocrisia meia dúzia
de médicos levantarem a bandeira da moralidade contra os laboratórios. Queria ver o que aconteceria com a medicina se eles retirassem todo o apoio que dão.
Também não vejo mal algum
em receitar um medicamento de
um laboratório parceiro desde
que tenha a eficácia comprovada.
Você vai me dizer: e o preço, doutor? Eu digo: não é por uma diferença de R$ 30, R$ 40 que meus
pacientes vão deixar de tomar. Seria diferente se minha clientela
fosse do SUS ou de baixo poder
aquisitivo. Não é o caso."
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