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Sindicalista acusa irmão por assassinato
Após 13 anos de silêncio, testemunha conta ter presenciado reunião que decidiu a morte de um líder da Força Sindical
Acusado já havia sido denunciado pelo Ministério Público pelo mesmo crime em março de 2004, mas até hoje o caso não foi a júri
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Por volta das 8h do dia 23 de
outubro de 1992, o sindicalista
Josemir Gonçalves, 31, foi assassinado sentado no banco de
seu carro, um Verona, quando
se preparava para deixar o estacionamento do prédio onde
morava, na Vila Prudente, zona
leste de São Paulo.
Gonçalves recebeu à queima-roupa três tiros de revólver. O
fatal atravessou o colarinho da
camisa, entrou na base do crânio e saiu pela parte superior da
testa. Outros dois o atingiram
pelas costas e saíram pelo peito.
Gonçalves caiu no banco do
passageiro. Uma das balas foi
achada na poça de sangue que
se formou no chão do carro.
Conhecido como "Bruce
Lee", por ter tido aulas de caratê na juventude, esse sergipano,
ex-cobrador de ônibus, era um
nome importante da Força Sindical, amigo do ministro do
Trabalho no governo Fernando
Collor, Rogério Magri, e do deputado federal Luiz Medeiros
(PL-SP). Foi co-fundador, em
1989, do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de
Transporte Rodoviário de Cargas Secas e Molhadas de São
Paulo e Itapecerica da Serra,
hoje com 35 mil filiados.
A Polícia Civil nunca identificou o mandante e o executor da
emboscada. Treze anos e dez
meses depois, uma testemunha
privilegiada decidiu romper o
silêncio e contou, em entrevista à Folha, ter presenciado a
reunião que teria decidido o assassinato de Bruce Lee. O acusador é irmão do acusado. O
motivo do crime seria uma disputa por dinheiro e poder no
sindicato -que tem receita
anual de cerca de R$ 3 milhões.
Lauro Bispo de Sena, 46, ex-diretor de base do sindicato,
afirmou que a idéia de matar o
sindicalista partiu do atual presidente do mesmo sindicato
criado por Bruce Lee, o também co-fundador José Carlos
de Sena, 59, que acumula o cargo de diretor financeiro da federação do setor (56 sindicatos
e 400 mil filiados). Na época do
crime, Lauro era tido no sindicato como braço direito de Sena. Foi diretor sindical até deixar a entidade, em 1999.
A reunião teria ocorrido um
dia antes do assassinato, na
noite de 22 de outubro de 1992,
na antiga sede do sindicato, em
São Paulo. Também teria participado da conversa o então tesoureiro do sindicato, Adelmo
Pedro Lima, 51, hoje desligado
do sindicato. A reportagem não
conseguiu localizá-lo.
Sena já havia sido denunciado pelo Ministério Público pelo
mesmo crime em março de
2004, com base em outro depoimento, mas até hoje o caso
não foi a júri. "Meu irmão é um
assassino frio. Foi ele quem
mandou tirar a vida do companheiro Bruce Lee" disse Lauro,
que desde 2000 mora na Bahia.
Segundo Lauro, durante a
reunião Sena e Lima primeiro
discutiram a possibilidade de
matar o sindicalista por meio
de um "trabalho" de bruxaria.
Sena não teria concordado porque a morte "iria demorar".
Do sindicato, os irmãos teriam seguido juntos para suas
casas. "Indo para casa, no carro
com ele, ele falou para mim:
"Olha, o Bruce Lee não vai mais
atrapalhar a nossa vida porque
nós vamos, eu vou, mandar tirar a vida do Bruce Lee"."
Na manhã do crime, Lauro
teria recebido uma ligação de
Sena para comparecer à sede
do sindicato. "Quando cheguei
ao sindicato, ele disse: "Lauro,
já se foi o Bruce Lee, mataram
o rapaz". Sena então foi ao velório do sindicalista."
Lauro disse ter decidido acusar Sena depois de lhe pedir,
sem sucesso, dinheiro para, segundo ele, estruturar um novo
sindicato na Bahia. "Fui mandado embora do sindicato e
nunca recebi meus direitos."
Sena se diz vítima de calúnia
(veja texto nesta página).
Em 2003, o então vice-presidente do sindicato na época do
crime, José Raimundo Ferreira, 51, afirmou à polícia da Bahia, que ouviu uma conversa
entre Sena e o diretor Natalício
Ferreira na qual também teriam falado sobre a necessidade de matar Josemir Gonçalves. O inquérito foi reaberto e o
processo tramita em São Paulo.
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