São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2006

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Sindicalista acusa irmão por assassinato

Após 13 anos de silêncio, testemunha conta ter presenciado reunião que decidiu a morte de um líder da Força Sindical

Acusado já havia sido denunciado pelo Ministério Público pelo mesmo crime em março de 2004, mas até hoje o caso não foi a júri

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Por volta das 8h do dia 23 de outubro de 1992, o sindicalista Josemir Gonçalves, 31, foi assassinado sentado no banco de seu carro, um Verona, quando se preparava para deixar o estacionamento do prédio onde morava, na Vila Prudente, zona leste de São Paulo.
Gonçalves recebeu à queima-roupa três tiros de revólver. O fatal atravessou o colarinho da camisa, entrou na base do crânio e saiu pela parte superior da testa. Outros dois o atingiram pelas costas e saíram pelo peito. Gonçalves caiu no banco do passageiro. Uma das balas foi achada na poça de sangue que se formou no chão do carro.
Conhecido como "Bruce Lee", por ter tido aulas de caratê na juventude, esse sergipano, ex-cobrador de ônibus, era um nome importante da Força Sindical, amigo do ministro do Trabalho no governo Fernando Collor, Rogério Magri, e do deputado federal Luiz Medeiros (PL-SP). Foi co-fundador, em 1989, do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas Secas e Molhadas de São Paulo e Itapecerica da Serra, hoje com 35 mil filiados.
A Polícia Civil nunca identificou o mandante e o executor da emboscada. Treze anos e dez meses depois, uma testemunha privilegiada decidiu romper o silêncio e contou, em entrevista à Folha, ter presenciado a reunião que teria decidido o assassinato de Bruce Lee. O acusador é irmão do acusado. O motivo do crime seria uma disputa por dinheiro e poder no sindicato -que tem receita anual de cerca de R$ 3 milhões.
Lauro Bispo de Sena, 46, ex-diretor de base do sindicato, afirmou que a idéia de matar o sindicalista partiu do atual presidente do mesmo sindicato criado por Bruce Lee, o também co-fundador José Carlos de Sena, 59, que acumula o cargo de diretor financeiro da federação do setor (56 sindicatos e 400 mil filiados). Na época do crime, Lauro era tido no sindicato como braço direito de Sena. Foi diretor sindical até deixar a entidade, em 1999.
A reunião teria ocorrido um dia antes do assassinato, na noite de 22 de outubro de 1992, na antiga sede do sindicato, em São Paulo. Também teria participado da conversa o então tesoureiro do sindicato, Adelmo Pedro Lima, 51, hoje desligado do sindicato. A reportagem não conseguiu localizá-lo.
Sena já havia sido denunciado pelo Ministério Público pelo mesmo crime em março de 2004, com base em outro depoimento, mas até hoje o caso não foi a júri. "Meu irmão é um assassino frio. Foi ele quem mandou tirar a vida do companheiro Bruce Lee" disse Lauro, que desde 2000 mora na Bahia.
Segundo Lauro, durante a reunião Sena e Lima primeiro discutiram a possibilidade de matar o sindicalista por meio de um "trabalho" de bruxaria. Sena não teria concordado porque a morte "iria demorar".
Do sindicato, os irmãos teriam seguido juntos para suas casas. "Indo para casa, no carro com ele, ele falou para mim: "Olha, o Bruce Lee não vai mais atrapalhar a nossa vida porque nós vamos, eu vou, mandar tirar a vida do Bruce Lee"."
Na manhã do crime, Lauro teria recebido uma ligação de Sena para comparecer à sede do sindicato. "Quando cheguei ao sindicato, ele disse: "Lauro, já se foi o Bruce Lee, mataram o rapaz". Sena então foi ao velório do sindicalista."
Lauro disse ter decidido acusar Sena depois de lhe pedir, sem sucesso, dinheiro para, segundo ele, estruturar um novo sindicato na Bahia. "Fui mandado embora do sindicato e nunca recebi meus direitos." Sena se diz vítima de calúnia (veja texto nesta página).
Em 2003, o então vice-presidente do sindicato na época do crime, José Raimundo Ferreira, 51, afirmou à polícia da Bahia, que ouviu uma conversa entre Sena e o diretor Natalício Ferreira na qual também teriam falado sobre a necessidade de matar Josemir Gonçalves. O inquérito foi reaberto e o processo tramita em São Paulo.


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