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Viagem grátis afeta fiscalização, diz Jobim
Ministro da Defesa afirma em CPI no Senado que passe livre para diretores da Anac causa tolerância com empresas áreas
Agência revelou em auditoria
que TAM fez manutenção em
34 aviões no Natal, mas
aceitou justificativa de
problema com controle aéreo
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Nelson Jobim
(Defesa) disse ontem que os
passes livres para funcionários
da Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil), concedidos por
companhias aéreas, se convertem em "tolerâncias" com as
empresas em fiscalizações. Ele
defendeu o fim desse benefício
na reformulação que pretende
fazer na agência. Jobim não citou nenhuma empresa.
A TAM, por exemplo, forneceu 2.833 passagens à Anac
apenas de julho a dezembro de
2006. Coincidência ou não, no
Natal, ela contou com a "boa-vontade" da Anac e o álibi da
"culpa dos controladores" para
maquiar problemas que afetaram milhares de passageiros,
com a retirada de aviões para
manutenção não-programada.
A empresa sustenta que apenas seis aviões pararam em dezembro e que enfrentou dificuldades no check-in do aeroporto do Galeão, no Rio, além
de questões meteorológicas.
Outras empresas, porém, não
tiveram problema com o clima.
A auditoria da Anac revela
que a TAM fez 66 manutenções
não-programadas no mês -34
delas entre os dias 20 e 26 (veja
quadro ao lado). A frota era de
95 aviões, sendo 78 na malha
doméstica.
A agência considerou que dezembro foi "um período difícil",
mas foi acrítica sobre o fato de a
empresa culpar o controle aéreo por 67% de seus cancelamentos no mês.
"Passe livre e upgrades têm
que acabar. É uma forma de benesses que em algum momento
são cobradas e da forma mais
difícil de controlar, que é a tolerância", disse Jobim ontem na
CPI do Apagão Aéreo.
À CPI a Gol informou que
não tem como levantar os passes livres concedidos à Anac. A
Ocean Air disse que não cedeu
bilhetes. A CPI, porém, concentra suas atenções na TAM, devido ao acidente do vôo 3054.
A auditoria da Anac concluiu
que a manutenção foi um "fator
contribuinte", mas não "determinante" para os 877 vôos cancelados e outras centenas de
atrasados, que deixaram milhares de passageiros atolados no
fim do ano passado -a sucessão de atrasos nos vôos atingiu
aeroportos por todo o país.
"Os atrasos devido a problemas de tráfego aéreo e os problemas de manutenção, em várias etapas se fundiam, onde
não se pode afirmar que a empresa tenha falhado", diz o relatório da Anac.
Procurada, a própria TAM
negou essa justificativa: "Quando não foi possível realizar a
manutenção no aeroporto programado, esta foi cumprida em
outra base da empresa".
Além disso, não houve dificuldades com os controladores
no Natal, o que teria afetado
outras empresas também. Somente a TAM precisou fretar
aviões da FAB para honrar as
passagens vendidas.
Apenas o presidente da Anac,
Milton Zuanazzi, registrou um
estranhamento sobre o resultado da auditoria. "Ora, se 86,7%
dos cancelamentos deveram-se
a condições alheias à administração da empresa, por que as
demais congêneres não enfrentaram a mesma situação crítica?", questionou.
Simulador
Jobim disse ainda na CPI que
investigará uma suspeita de favorecimento. O deputado Vic
Pires (DEM-PA) afirmou que o
superintendente de Segurança
Operacional da Anac, Marcos
Tarcísio Marques dos Santos,
autorizou para a TAM uma mudança no treinamento mínimo
exigido pela lei em simulador,
que é de quatro horas.
Desde 16 de agosto, a companhia foi autorizada a reduzir as
sessões para três horas para
treinamento para aeronaves
Airbus-A319, A320 e A330.
Santos utilizou pelo menos
25 passagens gratuitas da TAM
em julho, agosto e dezembro de
2006. Segundo a TAM, o número total de sessões nesses treinamentos aumentou de 40 para 41 horas.
Oficialmente, a Anac informa que essa era a forma de trabalhar enquanto não havia orçamento específico. Conforme
dados do deputado Gustavo
Fruet (PSDB-PR), a agência teve orçamento pago de mais de
R$ 10 milhões para diárias e
passagens no ano passado.
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