São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2001

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GREVE NAS FEDERAIS
Manifestantes entram em confronto com a PM e nove pessoas ficam feridas

Tumultos anulam vestibular de 15 mil na federal do Rio

Roberto Price/Folha Imagem
PMs tentam conter manifestação contra a realização de vestibular da UFRJ, na Ilha dop Fundão


DANIELA MENDES
DA SUCURSAL DO RIO

A UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) anulou parcialmente seu vestibular, realizado na manhã de ontem. Os 14.520 candidatos aos 12 cursos da área tecnológica terão de fazer novas provas, ainda sem data marcada.
Eles representam cerca de 29% dos 50 mil candidatos que prestaram vestibular para 98 cursos. Os candidatos a esses 12 cursos que faltaram ou chegaram atrasados poderão fazer as novas provas.
O vestibular no Rio foi marcado por protestos de estudantes e professores em greve que entraram em confronto com a Polícia Militar em vários locais. No campus da ilha do Fundão, maior concentração de candidatos, nove pessoas foram removidas para hospitais com ferimentos de estilhaços de bomba e de cacetete.
A anulação parcial do vestibular da maior universidade federal do país ocorreu depois de dias de incerteza em relação à sua realização e foi provocada por tumultos no CAP (Colégio de Aplicação), da UFRJ, um dos locais de prova, com 570 candidatos.
O CAP é um dos principais colégios do Rio, e está sem aulas há mais de dois meses por causa da greve dos professores federais.
Estudantes das escolas federais que queriam o adiamento do vestibular para janeiro e fevereiro rasgaram cerca de 20 cadernos de respostas e se recusaram a prestar as provas para os cursos da área tecnológica no CAP alegando que não tinham condições psicológicas para fazer o concurso.
Às 11h, a direção da UFRJ decidiu que os alunos do CAP não fariam as provas. Com isso, quem estava fazendo concurso em outros locais para os cursos dos grupos 2 e 4 (área tecnológica), que abrangem, entre outros, engenharia, matemática, química, economia e administração, terão de fazer novas provas. Nos outros 30 locais onde foi feito o vestibular, as provas começaram às 9h15.

Liminares
Na véspera do vestibular ocorreu uma guerra de liminares para definir se seria realizado ontem, conforme queria a reitoria da UFRJ, ou se deveria ser adiado, proposta defendida pelos grevistas que não viam condições para a realização das provas.
A guerra só acabou por volta das 22h de sábado, quando o desembargador Arnaldo Lima, presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, suspendeu liminares que adiavam a prova.
Muitos estudantes chegaram aos locais dos exames sem saber se haveria vestibular. "É uma loucura fazer o vestibular. Ninguém tem clima para a prova", disse Marcela Cardoso, 18.
A manifestação organizada pelos professores da Associação de Docentes da UFRJ no Fundão com participação de entidades estudantis acabou fugindo ao controle. Às 7h, cerca de 200 manifestantes se reuniram em frente ao CCMN (Centro das Ciências Matemáticas e da Natureza), gritando palavras de ordem e impedindo a entrada de estudantes.
A PM fez um bloqueio em frente a entrada do prédio para impedir o acesso dos manifestantes. Às 7h30 houve o primeiro desentendimento entre policiais e manifestantes. A pedido da organização do concurso, a PM forçou o recuo dos manifestantes para liberar o acesso aos locais de prova. Eles responderam com paus e pedras.
A partir desse episódio, o confronto mais violento já era esperado. Às 8h, horário previsto de abertura dos portões, a polícia tentou retirar os manifestantes da frente do CCMN e houve reação.
A polícia detonou uma bomba de efeito moral para esvaziar a área e tentou conter os manifestantes com cacetetes.
Quatro pessoas ficaram feridas com estilhaços do artefato, um funcionário da UFRJ atingido na cabeça por um cacetete foi internado e liberado. "Essa confusão foi criada pela intransigência do reitor", disse Marcelo Badaró, vice-presidente da Andes (Associação Nacional de Docentes).
Pais entraram em pânico. Muitos estavam deixando os filhos quando começou o tumulto e o corre-corre. Os candidatos, confundidos com os manifestantes, tentavam se proteger. Chorando muito, Ana Paula Barbosa do Carmo, 22, tentava acalmar a mãe pelo celular. "A gente fica impressionada com essa violência."
Com a intervenção de parlamentares do PT e do PC do B, a manifestação foi contornada por pouco tempo. Quinze minutos após o início das provas, a estudante Fernanda Luiz da Silva, 19, tentou sair do prédio com uma prova nas mãos para violar o sigilo e provocar a anulação do vestibular. Foi detida por policiais e liberada em seguida.
Minutos depois, dois estudantes foram detidos por soltar fogos de artifício de dentro do Centro Tecnológico. Manifestantes quebraram vidraças e houve novo confronto, dessa vez com o Batalhão de Choque. Nesse momento, pais dos candidatos entraram em conflito com manifestantes.


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