São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2001

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SAÚDE
No Brasil, 15% da população em idade fértil tem dificuldades para engravidar

Campanha quer prevenir esterilidade

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O cigarro, o uso de anabolizantes, o excesso ou falta de peso, as doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez tardia são considerados os principais vilões da fertilidade e serão alvos de uma campanha nacional de prevenção à esterilidade que acontece no Brasil a partir do próximo mês.
A campanha, que será realizada pela SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida), vem na esteira de uma outra que acontece nos EUA, onde cerca de 6,2 milhões de pessoas, ou 10% da população em idade reprodutiva, têm problemas de infertilidade.
No Brasil, os índices são ainda maiores: 15% da população em idade fértil tem dificuldade para engravidar, segundo informações da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida.
Homens e mulheres têm igual participação nos casos de infertilidade. Cada grupo responde por 40% dos casos. Os 20% restantes são atribuídos a causas indefinidas, que não são detectadas em exames.
"A infertilidade é uma doença devastadora e, assim como o câncer de mama ou a Aids, pode ser prevenida", afirmou Mike Soules, presidente da ASRM (Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva), à Folha.
De acordo com Edson Borges Júnior, presidente da SBRA, o objetivo da campanha é mostrar aos jovens que os seus atuais hábitos -como fumar, usar anabolizantes, fazer exercícios em excesso, adotar dietas rigorosas ou ganhar peso- podem dificultar, ou em alguns casos até impossibilitar, uma gravidez.

Outras prioridades
No Brasil, a prevenção à infertilidade ainda não é prioridade do governo, segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde. O incentivo ao uso de métodos de contracepção e a erradicação da mortalidade infantil e materna são as principais preocupações do ministério, afirma a assessoria.
Médicos especializados em saúde reprodutiva defendem que o Ministério da Saúde também faça campanhas de orientação sobre a infertilidade ou inclua nas já existentes, como a de combate ao fumo, os riscos à saúde reprodutiva.
Um recente estudo inglês mostrou que 13% dos casos de infertilidade feminina são provocados pelo fumo. Nos homens, além do cigarro, drogas como anabolizantes, maconha e álcool, podem afetar a função testicular, provocando baixa produção ou má qualidade dos espermatozóides.
Para o ginecologista Ricardo Baruffi, 40, o governo não teria custo adicional se incluísse o tema infertilidade nas suas campanhas. "Ainda há muitas dúvidas. As pessoas não sabem que determinados hábitos podem levar à infertilidade", afirma.
Segundo Borges Júnior, os remédios contra a calvície também têm provocado danos aos espermatozóides, fazendo com que eles percam a capacidade de fecundar os óvulos.
Ele afirma que 68% dos casais que procuram sua clínica de reprodução apresentam algum fator que pode ser coadjuvante na alteração da função reprodutiva. Esse fator pode estar relacionado a hábitos (cigarro, álcool, drogas, excesso de exercícios) ou ao uso de medicamentos.
As atividades físicas em excesso, de acordo com ele, provocam descontrole hormonal, que causam irregularidades ou ausência de menstruação.
Problemas de aderência, obstrução da trompa, ovário policístico e endometriose são as principais causas de infertilidade feminina. Já nos homens, os problemas mais comuns são varicocele (varizes no escroto, bolsa que "segura" os testículos) e processos infecciosos e inflamatórios da próstata, que provocam a perda de qualidade do espermatozóide.



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