São Paulo, quarta, 29 de outubro de 1997.



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SAÚDE
CRM de Pernambuco alegou falta de provas contra donos do IDR; processos criminal e indenizatório continuam
Conselho arquiva processo contra clínica

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife

O Cremepe (Conselho Regional de Medicina de Pernambuco) decidiu ontem arquivar, por falta de provas, o processo ético movido contra os proprietários do IDR (Instituto de Doenças Renais) de Caruaru, Bráulio Coelho e Antonio Bezerra Filho.
Os dois foram acusados de imperícia, negligência e imprudência na tragédia que provocou, em 96, a intoxicação de 126 pacientes durante sessões de hemodiálise e a morte de pelo menos 64 deles.
O arquivamento do processo -que não significa a absolvição dos médicos- foi decidido por nove votos a oito, em reunião secreta que durou cerca de seis horas. A ação poderá ser reaberta, caso surjam novas evidências.
Se fossem condenados, Coelho e Bezerra Filho -que possuem outras clínicas de hemodiálise e continuam trabalhando normalmente- poderiam até perder o direito de exercer a profissão.
Até agora, ninguém foi responsabilizado pelo caso. Os processos criminais e indenizatórios movidos contra os diretores continuam em tramitação na Justiça.
A única sentença que obrigava os médicos a indenizar as famílias das vítimas, proferida há um ano pelo então juiz da 2ª Vara Cível de Caruaru (130 km de Recife), Marupiraja Ribas, não foi cumprida por força de recurso.
Os parentes dos mortos só estão recebendo um salário mínimo por mês, a título de pensão. A ajuda foi concedida pelo Senado no dia 12 de dezembro de 96 e aprovada pelo presidente Fernando Henrique.
O IDR foi fechado, mas o hospital que deveria atender os pacientes em Caruaru continua sem funcionar. Os doentes renais são obrigados a se deslocar em média três vezes por semana a cidades vizinhas para fazer hemodiálise.
Microalga
A contaminação dos pacientes da clínica ocorreu entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 96 e foi provocada por uma microalga, a microcistina LR, presente na água usada no processo de filtragem do sangue.
A microalga, comum em lagos e reservatórios do Nordeste, produziu toxinas que se instalaram no organismo dos pacientes. Pelo menos 47 dos 64 mortos foram vítimas de hepatite tóxica.
Os diretores da clínica sempre negaram qualquer responsabilidade no caso e atribuíram as intoxicações a uma "fatalidade".
Uma CPI aberta na Assembléia Legislativa concluiu que houve falhas dos governos estadual, municipal e federal no caso e responsabilizou sete pessoas, entre servidores e diretores do IDR.
Bráulio Coelho e Antonio Bezerra Filho foram indiciados no dia 30 de abril de 96 pela Polícia Civil de Caruaru, sob acusação de homicídio culposo (não intencional).



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