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MENINOS DE RUA
Programa da Prefeitura de BH e do Ministério Público oferece bolsas a famílias que cumprirem exigências
MG lança projeto contra trabalho infantil
RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Prefeitura de Belo Horizonte e
Ministério Público de Minas Gerais lançaram oficialmente ontem
programa para retirar das ruas
crianças e jovens que vendem objetos em sinais de trânsito, pedem
esmolas, recolhem materiais ou
exercem atividades semelhantes.
Contando com recursos e apoio
dos governos estadual e federal e
de entidades sociais, o projeto de
combate à exploração do trabalho
infanto-juvenil, chamado "Crescer", prevê às famílias cadastradas
repasse de bolsas mensais de R$
40 a R$ 150, cestas de alimentação,
atendimento médico, apoio educacional e atividades pedagógicas
e profissionalizantes.
Para receberem o benefício, os
menores devem ser retirados pelos pais do trabalho na rua, frequentar escolas e participar de
cursos e eventos do projeto.
As famílias assinam um termo
de compromisso no Ministério
Público, que irá acompanhar,
com técnicos do projeto, se os
participantes estão cumprindo as
exigências. Caso não se adaptem,
as famílias são excluídas e o Ministério Público pode oferecer denúncia à Justiça contra os pais.
O projeto espera atender 35,5%
das famílias de Belo Horizonte
com filhos menores de 18 anos
trabalhando nas ruas. O índice foi
calculado com base em pesquisa
encomendada ao instituto Lúmen
(da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), que, no primeiro semestre, fez um diagnóstico do trabalho infantil na cidade.
Segundo a pesquisa, 522 crianças e jovens trabalhavam nas ruas
da cidade -396 pertenciam a 366
famílias de Belo Horizonte; as demais são da região metropolitana.
Até ontem, 130 famílias que haviam assinado o termo estavam se
adaptando às normas e começam,
segundo a prefeitura, a receber os
subsídios nas próximas semanas.
Segundo a coordenadora do
projeto, Luzia Lamonier, 50, cada
caso é estudado separadamente
para que sejam definidos valor da
bolsa, necessidade de repasse de
cesta de alimentação, horários e
dias da frequência às atividades.
Segundo ela, a idéia é elevar para 190 o número de famílias atendidas. "O projeto tem diferenças
em relação a projetos semelhantes, por ter uma atuação mais variada. Ele não só garante a presença da criança na escola como trata
de questões como saúde e capacitação profissional dos familiares."
A prefeitura reservou cerca de
R$ 300 mil para o projeto no próximo ano. Os outros recursos, que
não foram divulgados, vêm do
governo estadual e dos programas Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) e Agente Jovem, do governo federal.
Imitar o pai
O desempregado Deusdete Machado da Silva, 44, disse que três
de seus sete filhos pediam esmolas em sinais de trânsito porque
queriam "imitar" o pai, que trabalha na rua há mais de um ano.
Silva recolhe ferro velho no
bairro São Paulo (nordeste de Belo Horizonte), onde mora com
mulher e filhos. "Você sabe como
é criança, eles iam para a rua e pediam dinheiro, mas dava só para
comprar doce, bala, essas coisas."
Sua família é uma das 130 que já
participam do Crescer. "Agora,
estão todos em casa, estudando,
ninguém pede mais esmola não."
O desempregado aceitou participar do Crescer e diz que quer fazer algum curso profissionalizante oferecido. "Só não quero o de
culinária, porque isso eu já sei."
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