São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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SAIA JUSTA
Mulher vence pudor e adota pornografia


ANTONINA LEMOS
da Reportagem Local

A agente de turismo Miriam Moreira, 45, adora assistir filmes eróticos. Quando viaja para o exterior, sempre frequenta clubes com shows de homens nus. Ela também se interessa por revistas com homens sem roupa e reclama da falta de uma publicação desse tipo no Brasil.
Assim como ela, outras mulheres quebram o mito de que a mulher não se excita visualmente e que sentir desejo ao ver um corpo nu ou cenas de sexo é coisa exclusiva dos homens.
Segundo o psicanalista Oswaldo Rodrigues Jr., do Instituto Paulista de Sexualidade, a mulher está assumindo um impulso que já sentia. "O que acontecia era que havia uma visão estereotipada de que só os homens se excitavam com estímulos externos. E as mulheres não tinham coragem de assumir que sentiam esse desejo", diz.
Segundo ele, a situação está mudando. "Hoje as mulheres se sentem menos em conflito por terem esse tipo de excitação sexual." Miriam é uma prova disso. Ela conta que tem uma coleção de filmes.
"É ótimo, ajuda você a se excitar e se preparar para a relação sexual", diz ela, que, além de assistir aos filmes com o marido, também gosta de assisti-los sozinha. Ela também gosta de vibradores e de outros produtos de sex shop.
A escritora Gisela Rao, autora do livro "Sex Shop", concorda. Ela diz pensar em erotismo "em 80% do tempo" e coleciona vários produtos eróticos e filmes pornográficos. "Gosto de pornografia desde pequena, comecei vendo os livros do Carlos Zéfiro (autor de quadrinhos eróticos dos anos 60) do meu irmão", diz Gisela.
Gisela conta que seu interesse por pornografia assusta alguns homens. "Existem os que se assustam e os que querem é entrar na roda. Prefiro os que curtem."
Mas, mesmo assumindo a preferência pela pornografia, as mulheres continuam tentando extrair um "algo mais" das imagens de sexo. "Prefiro coisas que envolvam história, não gosto muito de pornô na lata. As mulheres gostam de histórias em que elas se envolvam", diz a escritora.
Segundo o sexólogo Claudio Picazo, "os homens se excitam vendo as partes do corpo, já as mulheres, vendo o todo".
A fotógrafa Marina (o nome é fictício), 29, que também "adora" pornografia, não exige tanto enredo, mas faz sua censura. "Não gosto de bate-papo em filme pornô, mas também não vejo cenas de sexo ginecológico, aquela coisa explícita. O bom é fantasiar e se colocar no lugar da mulher."
A artista plástica Márcia (o nome é fictício), 30, descobriu a pornografia na Internet. "Visito muito os sites pornográficos e também acho legal as revistas gays", diz.
O sexólogo Claudio Picazo explica que sempre existiu o mito de que as mulheres associavam o sexo ao romance. "Hoje elas estão assumindo que também gostam do sexo pelo sexo", diz.
Uma prova disso é o aumento da procura por produtos eróticos pelas mulheres. A loja Diandra, em São Paulo, uma butique erótica de luxo, descobriu aí um bom filão.
Criada há quatro anos, a loja começou atendendo principalmente homens. Hoje, entre os seus clientes, 95% são mulheres.
Eles vendem produtos eróticos para cerca de 15 mil mulheres em todo o Brasil. "As mulheres aprenderam a pensar nelas mesmas, no próprio prazer", diz Carla Tognazi, dona da loja.
Ela mesma assume que gosta.



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