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CARNAVAL
Embora a diferença no orçamento das escolas de samba chegue a milhões de reais, processo de criação é
similar
Verba não assegura resultado na avenida
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O Carnaval do Rio fica a cada
ano mais rico, mas muito dinheiro nem sempre determina o resultado do desfile ou é condição para
um efeito que agrada o público.
Exemplos recentes não faltam.
Um deles é o título da Estácio de
Sá em 1992. A escola, que hoje está
no terceiro grupo, deixou a Mocidade, campeã de 1991, em segundo lugar. No ano passado, a história se repetiu: a Mangueira, cujo
orçamento é um dos maiores do
Grupo Especial, e a Unidos da Tijuca, que tem menos recursos,
empataram em segundo lugar. A
Tijuca levou o vice-campeonato
por ter melhores notas em evolução -quesito de desempate.
Com o patrocínio da Petrobras
e da Eletrobrás, a Estação Primeira gastará R$ 4,5 milhões e conta
com 300 trabalhadores para produzir o desfile deste ano. A escola
da Tijuca tem um orçamento de
R$ 2,4 milhões (igual ao do ano
passado) e 100 empregados e colaboradores. Em 2004, a Mangueira desembolsou R$ 4 milhões.
As principais diferenças entre
uma escola com mais recursos e
outra menos abastada surgem na
escolha dos materiais utilizados e
no número de profissionais envolvidos. O quanto é gasto não altera, porém, o processo de criação, sempre muito parecido em
todas as agremiações.
Da idéia inicial do carnavalesco
à materialização de um desfile,
uma escola de samba percorre
um longo percurso. Tudo começa
com a escolha do tema, atribuição, em geral, a cargo do carnavalesco. Para desenvolver o "embrião" do desfile, o carnavalesco
precisa de vários "insumos": boa
pesquisa que levante informações
e imagens do assunto, equipe afinada e com gente suficiente para
aprontar tudo a tempo, uma escola organizada e, claro, dinheiro
para alegorias e fantasias.
Escolhido o tema e feita a pesquisa que o fundamenta, os carnavalescos começam a preparar a
sinopse do enredo -texto que
sintetiza suas idéias e serve de base para a composição dos sambas.
Max Lopes, carnavalesco da
Mangueira, diz que pensa primeiro nas cores que usará no desfile,
antes mesmo de escrever a sinopse. A partir dessa escolha, cria fantasias e alegorias. Neste ano, ele
abordará a energia, retratando
desde os quatro elementos básicos (água, terra, fogo e ar) até as
energias positiva e negativa.
Para Paulo Barros, da Tijuca, a
sinopse é "secundária". Primeiro,
ele seleciona as melhores imagens
da pesquisa para, a partir delas,
estruturar as alas e os carros que
utilizará no desfile.
Mas há carnavalescos que valorizam muito o texto. Neste ano, a
carnavalesca Rosa Magalhães, da
Imperatriz, fez sua sinopse sobre
os autores infantis Hans Christian
Andersen e Monteiro Lobato no
formato de um cordel, facilitando
o trabalho dos compositores.
A Tijuca, por sua vez, levará à
Sapucaí lugares imaginários e míticos/religiosos, como Oz, Sítio do
Pica-Pau Amarelo, Castelo do
Drácula, purgatório etc. Para dar
unidade a coisas tão distintas,
Barros procurou um "fio condutor". Elegeu para o "cargo" Dom
Quixote, personagem criado por
Cervantes e que completa 400
anos em 2005.
Em 2004, Barros fez o mesmo: a
máquina do tempo "orientou" o
público no enredo sobre ciência.
O carnavalesco, que fez a sensação do desfile de 2004 com o carro
do DNA (uma pirâmide humana), diz que a idéia do enredo surgiu do livro "Dicionários de Lugares Imaginários", que ganhou de
um amigo. Neste carnaval, diz, os
carros também estarão repletos
de pessoas -247 só no abre-alas.
Da sinopse à execução, os primeiros passos são os croquis e as
plantas de carros alegóricos, além
dos protótipos das fantasias. Depois, começa o trabalho no barracão -onde são feitas as esculturas, estrutura, decoração e pintura dos carros- e dos ateliês, nos
quais costureiras dão forma a fantasias, adereços e sapatos.
Neste ano, a Mangueira, que
subcontrata sete ateliês, inovará
com 70% de seus integrantes calçando tênis, em vez de sandálias.
Paralelamente, os sambas são
selecionados na quadra da escola,
geralmente por concurso -embora o presidente/patrono da
agremiação muitas vezes interfira
e até proclame o vencedor. A cada
fim de semana há uma eliminatória. O samba-enredo é escolhido
em setembro ou outubro, quando
começam os ensaios semanais.
Em janeiro, os aderecistas dão o
acabamento nos carros e as últimas fantasias são feitas.
Dinheiro farto
Presidente da Mangueira, Álvaro Caetano reconhece que hoje a
escola é bem estruturada e que,
por isso, consegue fazer um Carnaval farto em recursos. Ele diz
que neste ano o desfile "high-tech" projetado por Max Lopes
fez subir os custos do desfile, com
mais investimentos em iluminação e decoração em neon (sete
dos oito carros terão o material).
Já Barros, um adepto de materiais pouco convencionais e contrário ao uso excessivo de plumas,
privilegiará mais uma vez soluções simples e baratas. Levará à
avenida alegorias feitas com bolinhas de plástico, espuma e tecido.
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