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Presidente combate torturas
DA REPORTAGEM LOCAL
Celebrado por entidades de defesa dos direitos humanos, o atual
presidente da Febem, Alexandre
de Moraes, ganhou notoriedade
junto à opinião pública ao enfrentar a chamada "banda podre" da
fundação -denunciada em 15
processos do Ministério Público
Estadual por tortura- ao promover pessoalmente, dia 12 de janeiro, uma vistoria na unidade 41
da Vila Maria, que terminou com
a detenção de 16 funcionários e o
reconhecimento de outros sete
torturadores, agora foragidos.
Moraes já foi promotor da Infância e da Juventude no interior
do Estado e promotor da Cidadania na capital. Atualmente, é professor de direito constitucional e
direitos humanos na USP.
Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida à Folha.
(FERNANDA MENA E ALEXANDRE HISAYASU)
Folha - Historicamente, a Febem
é alvo de denúncias de maus-tratos
contra adolescentes internos, sem
que isso provoque ações enérgicas
de seus presidentes. O que o motivou a enfrentar essa questão?
Alexandre de Moraes - Assumi a
Febem em 26 de agosto de 2004
com propósitos e metas. O primeiro deles é dar maior transparência à fundação. A educação de
qualquer pessoa internada é complicada. É algo conflituoso falar
em educação -que pressupõe liberdade- e internação. Quero
trazer as mães para dentro da Febem, mas também as várias igrejas e a sociedade civil. Dentro dessa transparência, a primeira coisa
que tem de acabar é a tortura.
Folha - Como combater práticas
tão arraigadas na fundação?
Moraes - Venho acompanhando
a Febem há três anos e isso não é
uma coisa institucionalizada. Somos totalmente contra essa práticas e, ao colocar isso muito claramente, acabei gerando reações de
companheirismo de entidades de
mães, de direitos humanos, o Ministério Público e a secretaria [da
Justiça]. O medo que as entidades
tinham de dar informações acabou. Quando denunciaram, eu fui
diretamente detectar as lesões e
houve comprovação de que, naquela madrugada (de 11/01), jovens foram torturados. Tudo
coincidiu para a possibilidade da
atuação mais forte. O Judiciário
viu seriedade nas ações e decretou
prisão dos suspeitos.
Folha - Como explicar o fato de
essas atitudes não terem sido tomadas anteriormente, quando a
Febem esteve na Educação, Juventude ou Assistência Social?
Moraes - Não posso explicar o
que os outros gestores fizeram ou
não. Mas acredito que cada um
teve seu mérito e contribuiu para
melhorar a situação aos poucos.
O fato de a Febem estar na pasta
da Justiça otimiza muita coisa institucionalmente. O secretário da
Justiça tem contato diário com o
Ministério Público, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o
Judiciário e as entidades de direitos humanos.
Folha - Qual a reação que esperava da prisão dos agentes por suspeita de crime de tortura?
Moraes - No dia 11, os funcionários do sindicato pularam em cima do meu carro para tentar impedir minha entrada na unidade
da Vila Maria. Foi um negócio até
patético. Compraram uma briga e
foram mudando de discurso. Primeiro, diziam que não havia tortura, que foi caso de legítima defesa. Depois, disseram que a culpa
da tortura é da presidência. E entre um e outro, tentaram a greve.
Folha - Que o senhor chamou de
"greve dos torturadores"?
Moraes - Aquilo era greve de torturador mesmo, de quem vai à
imprensa dizer que faz greve em
favor de presos sob suspeita de
crime de tortura. E isso não é uma
opinião minha: eles foram presos
por ordem judicial. Nós temos,
com certeza, uma banda podre de
funcionários que não estão com a
mínima vontade de mudar. Alguns nem sabem atuar de outro
jeito -e não têm a mínima salvação. Vamos mapeá-los e demiti-los, por mais que nos pressionem.
Focos da banda podre estão na
Vila Maria e no Tatuapé, que ainda têm uma mentalidade de Franco da Rocha e da Imigrantes.
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