São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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SAÚDE

Cerca de 16 milhões de brasileiros, porém, têm a doença e não se previnem - duas das causas são o desconhecimento e o custo

Tratamento contínuo evita crises de asma

FERNANDA CALGARO
DA REDAÇÃO

Ao fazer algum esforço físico exagerado, como correr muito, ou mesmo quando ri demais, a atriz e artista plástica Vivian Azevedo Silva, 26, fica com falta de ar, tosse seca, dor no peito e precisa recorrer à inalação. O mesmo ocorre quando há mudanças bruscas de temperatura. "Limita bastante", diz ela, referindo-se às crises de asma de que sofre a cada quatro meses desde os 15 anos.
"Como também trabalho com tinta, às vezes o cheiro forte faz a asma atacar e tenho que parar um pouco. Mas não vou deixar de fazer o que gosto em razão disso", afirma Vivian, que não segue tratamento regular. "Tomo quando sinto algum sintoma", explica.
A história de Vivian ilustra a realidade de boa parte dos estimados 16 milhões de brasileiros que sofrem de asma e não seguem tratamento preventivo de maneira constante. Desse total, 6 milhões têm asma leve e estão na faixa etária de 6 a 40 anos.
A asma é uma doença genética inflamatória dos brônquios e bronquíolos (canais de condução do ar intrapulmonar), que ficam obstruídos -daí a falta de ar ser um dos sintomas. Também é comum a ocorrência de tosse seca e chiado no peito. A crise costuma ser desencadeada por uma reação alérgica a elementos como poeira, ácaro, fumaça de cigarro, pêlos de animais, mofo, pólen e poluição. Mas algumas pessoas têm crises relacionadas à temperatura e ao estresse emocional.
O tratamento é demorado e envolve não só o uso de remédios mas principalmente a mudança de hábitos, como o uso de carpete e cortinas, que acumulam poeira.
Segundo a médica Fátima Emerson, da Associação Brasileira de Asmáticos, os motivos para a baixa adesão aos tratamentos estão relacionados à falta de conhecimento da doença e à descrença na eficácia dos medicamentos -ainda perduram os mitos de que cortisona mata e bombinha vicia.
"Há também a dificuldade do paciente em aceitar a doença. Até hoje ninguém fala o nome. Diz que sofre de bronquite", afirma a médica. O custo da medicação também afasta o paciente.
No caso da asma leve, cujos sintomas aparecem de vez em quando, é ainda mais difícil fazer com que o paciente siga um tratamento de forma constante. "Mesmo quem tem asma leve pode ter uma crise grave e acabar internado", alerta Emílio Pizzichini, professor de pneumologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
Sem nunca ter feito nenhum tratamento preventivo, com exceção de imunoterapia por alguns meses, o serralheiro Eduardo Sarri, 32, teve que amargar sete dias internado quando tinha 16 anos. "Fiquei bem mal. Fiz inalação e tomei soro", relembra.
A asma é a quarta causa de internações no SUS (Sistema Único de Saúde), segundo o Datasus. De janeiro até novembro do ano passado, mais de 340 mil internações foram registradas, a um custo de R$ 115 milhões para os cofres públicos. Em 2003, ocorreram cerca de 2.100 mortes por asma, segundo o Ministério da Saúde.
Quando faz mais esforço na aula de ginástica, a engenheira civil Simone Cristina de Andrade, 25, fica com falta de ar e tem de parar por uma meia hora até se restabelecer. "Não sei o que é viver sem sentir isso".
Mesmo após uma crise séria de asma há uns dois anos, ela não segue tratamento preventivo. "Tomo os remédios pelo tempo indicado. Quando estou boa, não tomo", diz. "Não acredito em tratamento que seja totalmente eficaz aqui em São Paulo por causa da poluição. Teria que viver num lugar em que houvesse muito verde". Algo que não está em seus planos em um futuro próximo.

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