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ROTEIRO ÉTNICO
Quilombos atraem visitantes com história, artesanato e comida
Cultura afro estimula turismo
ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A PARATI
Enquanto a maioria das comunidades remanescentes em
áreas de quilombos ainda luta
pela titulação das terras, outras,
aos poucos, começam a explorar um potencial turístico até
então praticamente ignorado
pelos próprios moradores.
Em muitos casos, a falta de titulação é mesmo um entrave
-segundo a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, o
governo federal só titulou até
agora duas comunidades das
124 que estabeleceu como prioridade, mas o principal desafio
para os remanescentes desses
quilombos é resgatar sua história e cultura.
É isso que tem sido feito, por
exemplo, no quilombo Campinho da Independência, em Parati (RJ). Desde que a comunidade conseguiu legalizar a titulação de parte de suas terras, em
1999, os moradores passaram a
tentar atrair visitantes ao local,
interessados no artesanato, na
comida e na história do local.
Vivem na comunidade aproximadamente 500 pessoas em 11
núcleos familiares.
"Quem vem para cá, em geral,
está mais interessado na nossa
história que na paisagem", diz
Ronaldo dos Santos, 27, líder
comunitário do quilombo.
A proximidade do centro histórico (o quilombo fica no km
589 da rodovia Rio-Santos, a 13
km do trevo de entrada de Parati) ajuda o empreendimento.
Ruth Pinheiro, presidente do
CAD (Centro de Apoio ao Desenvolvimento), ONG pioneira
na formação de guias para turismo étnico, diz que a orientação
a essas comunidades é não deixar que o turismo traga drogas
ou exploração sexual.
É por isso que, em Parati, o roteiro turístico do quilombo
-onde há guias formados pelo
CAD- é marcado com antecedência. Nele, estão incluídos
passeio por trilhas, visita a núcleos familiares, almoço com
pratos típicos e uma atividade
com contadores de história.
No Rio, Parati não é o único
quilombo a atrair turistas. Em
Valença (a 150 km do Rio), o da
fazenda São José já é conhecido
entre os admiradores da cultura
negra por organizar apresentações de jongo, calangos e capoeira e por servir uma feijoada
a quem visita o local.
São Paulo também tem comunidades de olho nesse potencial.
É o caso do quilombo de Ivoporanduva, que fica em Eldorado
(285 km de São Paulo). No Vale
da Ribeira, há várias comunidades remanescentes do período
em que a cidade foi um ponto
importante na rota do ouro.
Para o subsecretário de Políticas para Comunidades Tradicionais da Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Carlos Eduardo
Trindade, o turismo pode ser
uma fonte de renda viável para
mais comunidades quilombolas. "Várias no Norte e Nordeste
têm potencial turístico, mas
precisam ser capacitadas."
Martinho da Vila
Martinho da Vila, 66, foi o nome escolhido pelo governo para
ser uma espécie de embaixador
dos quilombos brasileiros. Como coordenador do projeto
Quilombo Axé, ele terá a função
de divulgar as manifestações
culturais das comunidades.
Na verdade, não só ele. O sambista está convidando outros artistas para a missão. "Será um tipo de adoção. Cada um vai escolher um quilombo e depois divulgar o trabalho", diz o cantor
e compositor.
Lançado em dezembro, em
Brasília, o Quilombo Axé prevê
que durem dois dias as visitas
dos artistas às comunidades.
Colaborou a Sucursal do Rio
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