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São Paulo, domingo, 30 de março de 2003

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SAÚDE

Células do sangue, que reconstituem medula óssea de portadores de leucemia, podem ser doadas por grávidas

Cordão umbilical é usado em transplante

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O destino do cordão umbilical do bebê deixou de ser a lata de lixo. Rico em células-tronco, que são capazes de se transformar em vários tecidos do organismo, o sangue do cordão e da placenta está sendo usado para tratar pacientes portadores de leucemia e de outras doenças genéticas e auto-imunes que necessitam de um transplante de medula óssea e que não têm doador compatível.
Atualmente, há no Brasil pelo menos 1.500 pessoas nessa situação cadastradas em uma fila de espera do Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). A maioria é vítima da leucemia, doença que, só no ano passado, matou 4.460 crianças e adultos, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Além de representar uma opção para quem não tem doador compatível, o uso das células-tronco de cordão umbilical reduz em até 50% as chances de rejeição, de acordo com os médicos.
A desvantagem é que esse tipo de transplante só pode ser feito em crianças ou adultos que pesem até 50 kg. Segundo Carlos Alberto Moreira Filho, 50, coordenador do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, acima desse peso, a quantidade de células fornecida pelo cordão torna-se insuficiente para reconstituir a medula doente.
Ele afirma que estão sendo feitas pesquisas experimentais com objetivo de multiplicar em laboratório o número de células-tronco antes da transferência, o que, em tese, possibilitaria o transplante em pessoas acima de 50 kg. Outra opção seria a utilização de dois cordões compatíveis em um mesmo indivíduo.
Acontece que ainda não há no país uma grande quantidade de células armazenadas, o que dificulta a localização de doadores compatíveis que não sejam parentes. Para Marco Antonio Zago, 56, superintendente do hemocentro do HC de Ribeirão Preto, seriam necessárias pelo menos 12 mil amostras de sangue de cordão umbilical para que o transplante de células de pessoas não-aparentadas fosse viável no país.
O problema, porém, não é falta de doadores de cordão umbilical, mas sim a inexistência de um programa de saúde pública que financie esse tipo de transplante.
Segundo Luiz Fernando Bouças, coordenador do banco de sangue de cordão umbilical do Inca, os transplantes feitos até agora no Brasil utilizaram células de cordão umbilical obtidas no exterior ou vindas de um bebê da família do doente, geralmente o irmão. A compatibilidade acontece em 25% dos casos.
Cada amostra de sangue de cordão umbilical comprada no exterior custa em torno de US$ 18 mil, conforme o hematologista Nelson Hamerschlak, superintendente do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.
Segundo os médicos, as gestantes geralmente aceitam doar o cordão umbilical por uma questão humanitária. Foi o caso da dona-de-casa paulista Gláucia de Almeida, 34, que deu à luz ao segundo filho na semana passada.
Ela concordou em doar o cordão umbilical do filho aos oito meses de gestação, após ser entrevistada e submetida a exames de sangue.
Daqui a três meses, Almeida será novamente entrevistada para saber se houve algum problema com a mãe ou com o bebê, como infecções não percebidas no parto. Em caso de anormalidade, a unidade de sangue é descartada. "Tenho dois filhos saudáveis e quero ajudar a salvar uma vida."
A doação do cordão umbilical é bem simples. Após o nascimento do bebê, o sangue do cordão é extraído e, se aprovado nos testes, é congelado em tanques de nitrogênio líquido.

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