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MAUS-TRATOS
Afastado pela Justiça de SP é recontratado pela Febem
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Seis meses depois de ter seu
afastamento do cargo de diretor
de unidade anunciado pelo próprio presidente da Febem, Alexandre de Moraes (PFL), por suspeita de envolvimento em espancamentos e maus-tratos, o mesmo funcionário apareceu na lista
de readmitidos pela instituição
que supostamente não deveriam
apresentar um histórico de violência contra os internos.
Essa contradição não foi explicada pela Febem. Ontem, a assessoria da instituição afirmou apenas que a recontratação, publicada no "Diário Oficial" do Estado
de sexta-feira, será suspensa.
Em setembro passado, o diretor
da unidade 27 do complexo de
Raposo Tavares, na zona oeste de
São Paulo, foi afastado provisoriamente da função por ordem do
Departamento de Execuções da
Infância e Juventude (Deij).
Ele foi retirado do cargo, a pedido da Promotoria da Infância e
Juventude, para não comprometer uma investigação sobre maus-tratos, espancamentos e tortura
de internos da unidade. No pior
episódio registrado, adolescentes
teriam sido queimados por funcionários com fogos de artifício.
Segundo o Deij, antes de perder
o cargo, o diretor já tinha sido avisado pela Justiça de problemas
identificados em visitas realizadas
na unidade 27 por promotores e
juízes, mas nada foi feito.
As investigações sobre as agressões ainda estão em andamento.
Segundo o Ministério Público, o
diretor tinha conhecimento do
enclausuramento -internos ficaram trancados por mais de dois
meses- e das agressões e não teria feito nada para impedir.
Na época, por causa da apuração, o secretário da Justiça e Defesa da Cidadania e presidente da
Febem disse que, "se paira alguma dúvida sobre ele, vamos afastá-lo da administração para fazer
as apurações necessárias". Esse
afastamento foi uma das primeiras medidas para conter maus-tratos e espancamentos tomadas
por Alexandre de Moraes, que havia assumido a presidência da instituição no mês anterior.
Em fevereiro deste ano, o governo Geraldo Alckmin (PSDB)
anunciou a demissão de 1.751 funcionários. A intenção era livrar a
instituição de supostos agressores. Dias depois, no entanto,
anunciou a recontratação de cerca de 380 funcionários. Mas a
condição era que os readmitidos
não poderiam ter denúncias de
agressão a internos.
O diretor afastado estava entre
os 1.751 demitidos. Mas sua readmissão foi publicada na sexta-feira. Ele iria exercer função de coordenador de equipe na unidade 37,
que fica no mesmo complexo de
Raposo Tavares.
Dos recontratados pela Febem,
a Folha já apontou casos de dois
funcionários que já eram réus em
processos criminais que apuravam supostas sessões de tortura a
internos da instituição. Entre os
readmitidos também foram encontrados agentes cujos nomes tinham sido vetados pela Promotoria da Infância e Juventude. Esses
funcionários eram citados como
agressores por internos em procedimentos da Promotoria. A Febem afirma que esses agentes já
foram demitidos.
Tumulto
O complexo da Febem no Tatuapé (zona leste paulistana) voltou a registrar tumulto ontem. Segundo a instituição, cerca de 250
internos tomaram o controle de
três unidades. Eles queriam, de
acordo com a fundação, o retorno
dos internos com mais de 18 anos
transferidos para presídios. O tumulto, que durou três horas, foi
controlado por volta das 18h. Não
houve feridos.
Também ontem, entidades de
menor e de direitos humanos e a
direção da penitenciária de Tupi
Paulista (663 km da capital) não
chegaram a um acordo sobre a visita aos internos transferidos para
a unidade. O presídio não permitiu o acesso aos pavilhões. A Justiça local definirá hoje os critérios
para a visita.
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