São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2006

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EDUCAÇÃO

Segundo eles, faltam atividades extracurriculares e estrutura física

Pais criticam escola de tempo integral

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 50 pais e alunos da escola Júlia Della Casa Paula, na zona sul, protestaram ontem contra as condições do período integral no colégio, projeto implementado neste ano na rede estadual pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). Eles reclamam da estrutura física do local e da falta de atividades extracurriculares.
A Folha entrevistou 21 pais e dez professores de seis das 61 escolas da capital que aderiram ao programa. Nos relatos, as reclamações se repetem.
De acordo com o programa (apresentado em dezembro passado por Alckmin), as escolas que aderiram devem oferecer pela manhã o conteúdo regular e, à tarde, oficinas como teatro, atletismo, informática e experimentos matemáticos. A carga horária subiu de cinco para nove horas.
Segundo os relatos, os professores ainda não foram capacitados para as oficinas, e as escolas não receberam os materiais para as atividades e estão com problemas de estrutura. Como conseqüência, os alunos ficam cansados e irritados, pois têm aula no período da tarde (que é obrigatório).
Na Júlia Della Casa Paula, a sala de informática e a biblioteca estão inutilizadas desde o início das aulas, em 13 de fevereiro, por problemas na fiação. Também há infiltração nas salas. "Os meus filhos estão cansados, dizem que só têm lição", diz a manicure Valquiria dos Santos, 34, mãe de alunos da quinta e da sétima séries.
Na Jardim das Oliveiras 2 (zona leste), não há quadra. Já os pais da Ceciliano José Ennes (zona oeste) dizem que o refeitório não comporta todos os alunos no almoço. "Minha filha já ficou sem almoçar", diz a mãe de uma aluna da segunda série. As outras escolas onde a reportagem verificou o andamento do programa foram Salvador Allende, Joaquim Silvério Gomes (zona leste) e Neyde Apparecida Sollito (zona sul).
"O projeto veio no escuro. A orientação é complementar às aulas, mas ainda não disseram como", diz Carlos (nome fictício), professor da oficina de experimentos matemáticos de uma escola da Cohab 2 (zona leste).
Educadores afirmam que o projeto é bom, mas foi mal implementado. "A implementação está sendo feita a toque de caixa [o programa foi anunciado dois meses antes das aulas]", diz Ângela Soligo, uma das coordenadoras da graduação de pedagogia da Unicamp -no curso, há cerca de 80 professores da rede estadual.
Para Fábio Bezerra de Brito, diretor da Escola de Aplicação da USP, o programa deveria começar com projetos pilotos antes de ser estendido (hoje, 514 escolas participam em todo o Estado). "Do jeito que está, parece que o anúncio é mais importante que o ganho. Isso pode queimar uma idéia que é excelente."


Colaboraram LUÍSA BRITO, da Reportagem Local, e o "Agora"

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