|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Casamento é celebrado em clima de "apagão ecológico"
Na "Hora do Planeta", iluminação deveria ser desligada das 20h30 às 21h30
Iniciativa, que começou na
Austrália, é um protesto
contra o aquecimento global;
na festa em São Paulo, não
havia produtos descartáveis
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
Num prédio de 40 apartamentos da agitada rua Rodésia,
na Vila Madalena, bairro símbolo de balada em São Paulo, o
salão de festas estava às escuras. Mas, lá dentro, a animação
corria solta: cerca de cem pessoas tocavam, cantavam e bebiam para celebrar um casamento. À luz de velas.
A festividade, com clima de
"apagão ecológico", atendia ao
pedido da Hora do Planeta, iniciativa criada em 2007, em
Sydney, pela organização não-governamental WWF (Fundação para a Vida Silvestre, na sigla em inglês). Pela proposta,
que chegou anteontem ao Brasil, todos deveriam apagar as
luzes das 20h30 às 21h30.
Segundo a ONG, cerca de
1 bilhão de pessoas em 3.900 cidades de 88 países "se apagaram". Até ontem à noite, o
WWF não tinha um balanço sobre a adesão em São Paulo. A
julgar pelos prédios, bares e
restaurantes iluminados em
toda a cidade, pode-se dizer que
ela não foi significativa.
"Desde pequenina, separo lixo. Achei que a festa poderia ser
uma iniciativa para conscientizar as pessoas", disse a noiva, a
cantora Marcela Ribeiro, 28.
Nada de copos ou bandejinhas
descartáveis. Era tudo de vidro
e porcelana. O convite (enviado
por e-mail, claro) informava sobre a adesão a Hora do Planeta
e trazia o site do WWF para que
todos chegassem ao evento já
informados.
Dez velas garantiam a iluminação. Quem quisesse levar
uma para casa podia comprá-la
(de R$ 20 a R$ 25, cada uma).
As velas, feitas de sobra de parafina e decoradas com resíduos (casca de alho, palha de
milho, pedaços de vidros), foram criadas pela tia da noiva, a
bióloga Patrícia Blauth, 46.
Ela fez uma ressalva à Hora
do Planeta. "Deveríamos aprofundar a discussão para a energia como um todo, não só a elétrica. As pessoas precisam ter
noção do impacto ambiental
que causa uma hidrelétrica."
O presidente do WWF-Brasil, Álvaro de Souza, fez questão
de ressaltar, no lançamento da
Hora do Planeta, que não se
tratava de um ato de protesto
contra as geradoras brasileiras
de energia elétrica nem uma
iniciativa de poupar luz. Em
São Paulo, por exemplo, a Eletropaulo informou que o "apagão verde" não teve efeito no
consumo de energia. "Queremos chamar a atenção para o
aquecimento global. Cerca de
75% da emissão de CO2 no Brasil vem do desmatamento", disse o presidente do WWF.
No casamento da Vila Madalena, a música dispensou eletricidade. A animação ficou por
conta de clássicos como o
"Samba do Arnesto", de Adoniran Barbosa. "Ninguém reclamou", disse o noivo, o designer
Fernando Dana Jin, 22. Do outro lado do corredor, luzes
acessas na sala de sinuca. Desinformado, o estudante Caio
Vinícius Campos, 20, reclamava. "Desculpa aí. Não dá para
jogar com velas, né?"
Texto Anterior: Consumo: Consórcio exige a assinatura de promissória em branco, diz cliente Próximo Texto: SP planeja ampliar "apagão verde" em 2010 Índice
|