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JUSTIÇA
Aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente foi alvo de discussão em evento promovido pela Folha
Poder público falha ao implantar estatuto
O promotor da Infância e da Juventude de SP Ebenézer Salgado Soares
O juiz Dyrceu Cintra Jr., contrário à redução da maioridade penal
da Reportagem Local
O poder público não tem a eficiência necessária para implantar as políticas
que façam valer
todos os princípios estabelecidos pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA).
Esta foi uma das poucas opiniões
de consenso entre duas correntes
que participaram na terça-feira do
debate "A Lei Penal e o Adolescente", no auditório da Folha, para
discutir a proposta de redução da
idade penal de 18 para 16 anos.
No debate, estavam contra a
proposta da redução o juiz de direito Dyrceu Aguiar Dias Cintra
Jr., presidente do conselho executivo da Associação Juízes para a
Democracia, e a assistente social
Maria Ignês Bierrenbach, integrante da Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos.
Já o promotor de Justiça da Promotoria da Infância e da Juventude de São Paulo Ebenézer Salgado
Soares defendeu a redução.
Convidado a participar, o desembargador do Tribunal de Justiça de SP Marcelo Fortes Barbosa
não pôde comparecer.
Maria Ignês começou dizendo
que o assunto do adolescente infrator deve ser reportado apenas
ao ECA e não ao Código Penal.
Para ela, o jovem tem grande potencial para se reinserir na sociedade. Por isso, as internações devem ser breves e excepcionais.
"Nesse sentido, o ECA foi muito
feliz, pois já enumera toda uma série de medidas para serem aplicadas ao adolescente autor de infração penal. São as chamadas medidas socioeducativas, que incluem
advertência e internação."
Além essas duas medidas, segundo Maria Ignês, existem várias
outras que não são utilizadas como deveriam. "A obrigação de reparar um dano, a prestação de ser
viços à sociedade e a liberdade assistida são alguns dos exemplos
mais significativos. Mas infelizmente não existe uma política
consistente em torno dessas questões. A internação acaba sendo
aplicada indiscriminadamente."
Para o promotor Ebenézer Salgado Soares, a discussão sobre a
redução da idade penal diz respeito principalmente aos atos infracionais graves.
"O ECA não prevê uma proporcionalidade entre mau causado
pelo adolescente e a sanção aplicada a ele. É por isso que a sociedade
clama pela redução da idade."
Outra discussão importante, segundo o promotor, é saber se o
adolescente é capaz de entender
ou não o crime que pratica.
"Nós temos certeza que sim,
porque quando atendemos esses
adolescentes na promotoria, eles
sabem que vão ser julgados pelo
ECA, que é muito benevolente."
O promotor reconhece que as
políticas públicas que garantam os
direitos das crianças e dos adolescente ainda precisam ser implantadas, mas, por outro lado, afirma
que o ECA levou ao aumento da
criminalidade juvenil.
"A população da unidade de
acolhimento provisório da Febem
saltou de 160, em 92, para 995, em
98", afirmou.
O juiz Dyrceu Aguiar Dias Cintra
Jr. afirmou que o ECA é uma das
legislações mais avançadas do
Brasil. "No entanto, suas leis são
atacadas pelas pessoas que trabalham com elas. O motivo é que elas
não são aplicadas."
"O dr. Ebenézer diz que deveria
ser diminuída a idade penal tendo
em vista os descompassos que
existem entre uma pessoa que está
prestes a completar 18 anos receber uma medida socioeducativa e
outra que já completou 18 anos ter
uma pena longa. Mas, se a idade
abaixar, quem estiver prestes a
completar 16 anos estará na mesma situação. A solução não é, então, diminuir a idade penal."
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