São Paulo, segunda-feira, 30 de abril de 2001

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SOB SUSPEITA

Acusado entrega lista de 12 instituições de ensino que, segundo ele, estão envolvidas no comércio de cadáveres

Polícia apura venda de corpos a faculdades


ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

A polícia de Franca (400 km de SP) está investigando 12 instituições de ensino superior da região de Ribeirão Preto e de Minas Gerais acusadas de envolvimento com a venda ilegal de corpos.
A prática, segundo o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, é proibida por legislação específica e os responsáveis podem ser punidos criminalmente.
A lista, não divulgada integralmente pela polícia, foi fornecida pelo químico Osmar José Luiz, 38, acusado de vender dois corpos, de um lote de seis, para a Unifran (Universidade de Franca) no início do mês. Preso na última sexta-feira, Luiz foi liberado por ter escapado do flagrante.
Além da Unifran, a Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto) também faz parte da lista, segundo o delegado da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), João Walter Tostes. A denúncia do químico envolve ainda funcionários de pelo menos três IMLs (Instituto Médico Legal), que teriam facilitado a saída dos corpos.
Tostes disse que os cadáveres vendidos para as faculdades custavam cerca de R$ 3.000. O valor era dividido entre Luiz e os funcionários do IML. "O pessoal do IML ligava para ele [Luiz" e informava que tinha o corpo. Ele ligava para as faculdades para ver qual delas tinha interesse", afirmou.
Segundo Tostes, as evidências mais concretas são contra o IML de Bragança Paulista (83 km de SP), que liberou seis corpos para Luiz. O responsável pelo IML, Paulo Toshikasu, não foi localizado ontem. Na semana passada, ele negou a possibilidade de os corpos terem saído de lá, dizendo ter "um rigoroso controle de entrada e saída de corpos do local".
Mas a polícia de Franca informou que a autorização para a saída dos corpos foi assinada por ele.
Os corpos eram de indigentes, segundo a polícia. O comércio, disse o delegado, ocorre desde 99 e foi denunciado por um médico.
O caso começou a ser investigado semana passada, quando quatro corpos de homens foram encontrados em Rifaina (464 km de SP). Os cadáveres, jogados na área rural da cidade, estavam embalados em sacos utilizados por IMLs.
Luiz, que foi localizado na sexta em Uberaba (MG), confessou o crime. Ele diz que entregou dois corpos à Unifran em troca de uma proposta de emprego.



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