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VIOLÊNCIA
Rapazes erraram caminho de baile funk
Grupo é torturado e baleado nas mãos por traficantes em favela
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Dez jovens que pretendiam se
divertir num baile funk, na madrugada de ontem, erraram o caminho, foram desviados para
uma cilada no alto da favela de
São Carlos (no Estácio, zona norte
do Rio) e espancados com paus e
pedras por cerca de 50 traficantes.
Depois de serem torturados durante quase três horas, sete deles
foram baleados nas mãos.
O grupo, formado por três mulheres e sete homens - entre eles
um menor de idade -, pegou
uma Kombi do transporte alternativo em São Gonçalo (zona metropolitana do Rio), onde mora, e
veio para o Rio.
Uma das vítimas, Jeferson Nascimento de Araújo, 18, conta que,
na subida do morro de São Carlos, um garoto que usava um celular perguntou para onde eles pretendiam ir e de onde eram.
"Respondemos que vínhamos
de São Gonçalo e estávamos indo
para o baile funk. Ele disse para
subir direto", diz Araújo, contando que, no topo do morro, foram
surpreendidos por traficantes que
usavam vários tipos de armas, como pistolas, fuzis e até granadas.
Segundo Araújo, quando soube
que o grupo vinha de São Gonçalo, um dos traficantes teria dito:
"Ah, é do CV" - uma referência
ao Comando Vermelho, facção
criminosa rival do Terceiro Comando, que domina o tráfico de
drogas no morro do São Carlos.
"Eu estava de camisa vermelha.
Eles tiraram a camisa e queimaram", diz Araújo. Ele disse que
ninguém do grupo pertence a facções e que todos queriam apenas
"curtir um baile funk".
Os traficantes do São Carlos
mandaram que os rapazes tirassem as roupas. Eles foram espancados, obrigados a rolar no chão e
a bater uns nos outros.
Edson Vieira da Silva, 23, conta
que duas mulheres passaram de
cabeça baixa pelo local enquanto
eles eram espancados. "Os traficante perguntaram se elas queriam morrer." Silva, que disse ter
sido obrigado a cheirar cocaína
por um dos bandidos, chamado
de "Diabo", disse que não vai
mais querer saber de baile funk.
"Lá em Niterói [município vizinho a São Gonçalo" não tem esse
negócio. Você quer ir para um
baile funk se divertir, vai. Agora,
só quero saber de forró".
Tiros
Antes de serem liberados pelos
bandidos, cada um dos rapazes
levou um tiro na mão e todos foram obrigados a descer o morro
correndo. O menor de idade J.S.L,
17, levou três tiros. "Disseram que
ele era pretinho e que tinha cara
de bandido. Foi preconceito",
conta Silva.
Os rapazes foram atendidos no
hospital Souza Aguiar, no centro
da cidade. Dois deles permaneceram internados, pois precisavam
ser operados.
A delegada Sueli Peçanha Murat de Souza informou que os sete
não têm antecedentes criminais.
"São trabalhadores. Não sabiam o caminho e os traficantes
acharam que eles eram de uma
favela inimiga", afirma.
Sueli disse que o chefe do tráfico
do morro do São Carlos, Irapuan
David Lopes, conhecido como
Gan-Gan, foi reconhecido por alguns dos rapazes. O traficante
tem prisão preventiva decretada
por tráfico de drogas.
A polícia ainda vai ouvir três garotas que faziam parte do grupo e
continuaram em poder dos traficantes depois dos rapazes terem
sido liberados. Elas estão em casa
e passam bem.
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