São Paulo, sábado, 30 de abril de 2011

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BICHOS

VIVIEN LANDO - vivlando@uol.com.br

Novos amigos de infância


A luta deles é territorial, nada que não se resolva com um bom xixi feito em local estratégico

Há três semanas consegui me colocar numa situação da qual qualquer dono de bichos sensato fugiria. Após muita hesitação -pavor, na verdade-, trouxe meus gatos para morarem em casa. Juntamente com nossos dois cachorros!
Não que eles já não se conhecessem de longa data. Encontraram-se diversas vezes em circunstâncias, digamos, sociais. Como fins-de-semana no sítio e estadias temporárias dos cães no escritório. Onde antes habitavam os cinco felinos. Reinavam, pois a casa era inteiramente deles.
Imaginem o espanto que tiveram ao chegar na antiga moradia e a encontrar completamente dominada pela raça canina. Pois o primeiro dia de convivência entrou para a história de todos nós como um tsunami no jardim.
Cães correndo atrás de gatos espavoridos. Gatos agressivos arranhando focinhos inocentes. Gatos anciães subindo em árvores altíssimas como se tivessem seis meses de idade. Portas fechadas para um lado. Portões trancados para outro.
Surpreendentemente, uma semana mais tarde as relações bilaterais já permitiam esquecer o aparato de segurança e deixar todos quase juntos no mesmo espaço. Uma das gatas, justamente a menos ágil, teimou em ficar no quintal da frente com os cães. Mesmo com o pelo eriçado em alguns momentos. Um dos machos, depois de ter fugido pinheiro acima numa noite, decidiu relaxar -e passa o dia dormindo em qualquer um dos territórios.
Consultando os especialistas, confirmo aliviada que cães não são predadores de gatos. (Embora eu tenha visto pessoalmente, tempos atrás, o cachorro do vizinho comer uma de minhas gatinhas filhote até o ultimo ossinho.) Portanto, a luta deles é territorial. Nada que não se resolva com um bom xixi feito em local estratégico. Também há o componente do movimento: os cães adoram presas que se movem, e entre uma bolinha de borracha e um gato evidentemente o segundo é mais sedutor.
Embora não tenham crescido juntos, como seria ideal, nos últimos dias temos assistido a um processo acelerado de integração. Os cachorros latem para os gatos como se dissessem "brinquem conosco, por gentileza". Os gatos, em eterna posição de esfinge e um ar de tédio, não mais arredam a patinha de onde estão em meditação. E os humanos, muito orgulhosos, concluem: "eles estão fazendo todo esse esforço para nos agradar".
Cada espécie com suas idiossincrasias, não é mesmo?


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