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EDUCAÇÃO
R$ 125 milhões do Fundef, que deveriam ter sido investidos no ano passado, continuam nos cofres da prefeitura
Marta retém verba de ensino fundamental
MELISSA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo deixou de usar R$ 125,1 milhões da
verba do Fundef no ano passado, dinheiro disponível para o desenvolvimento do ensino fundamental no município.
O valor representa 22,2% dos R$ 561,8 milhões que a prefeitura
recebeu do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e Valorização do
Magistério em 2001.
O Fundef, que foi implementado em todo o Brasil em 1998, é
constituído de parte da arrecadação de impostos estaduais e municipais e complementado com
verbas federais. É destinado, preferencialmente, a investimentos
em salários dos professores.
O saldo seria suficiente para que
o Executivo construísse, por
exemplo, 15 escolões, nome como
são conhecidos os CEUs (Centros
Educacionais Unificados), unidades com piscina, quadra, anfiteatro, ateliês para oficinas e área
verde, que a administração pretende construir nos bairros mais
pobres da cidade.
No ano passado, de acordo com
a Secretaria Municipal da Educação, começaram a ser construídas
sete escolas de ensino fundamental, mas nenhuma foi concluída.
A notícia da sobra de recursos
surpreendeu representantes dos
professores municipais que estão
em negociação salarial com a prefeitura e ameaçam entrar em greve a partir do próximo dia 11.
Segundo a secretaria, a rede
municipal de ensino conta com
29.262 professores efetivos e não-efetivos de ensino fundamental. O
piso salarial da categoria, segundo
a prefeitura, é de R$ 433,25 para
os professores sem nível superior
que trabalham 20 horas semanais.
Legislação
De acordo com a lei do Fundef,
explicada em um manual de
orientação elaborado pelo Ministério da Educação, os recursos do
fundo recebidos pelos municípios
em um determinado ano devem
ser gastos naquele mesmo ano.
O manual aponta ainda que, caso a execução do orçamento
aponte para a existência de um
saldo do fundo no final do ano, as
prefeituras podem optar pela
concessão de abonos aos professores para que não sobre dinheiro
para o ano seguinte.
Para o vereador Cláudio Fonseca (PC do B), que é presidente do
sindicato dos servidores municipais da educação, a não-utilização
de toda a verba disponível é incompreensível. "A falta do investimento só pode revelar uma má
vontade da prefeitura de construir um sistema de valorização
do magistério", afirma.
"A lei obriga a gastar no próprio
exercício os recursos do fundo e
um bom planejamento de gastos
permite que isso aconteça", afirma o diretor de acompanhamento do Fundef, Ulysses Semeghini,
do Ministério da Educação.
Segundo Semeghini, a fiscalização da aplicação desses recursos,
no caso da Prefeitura de São Paulo, está nas mãos do Tribunal de
Contas do Município (TCM).
De acordo com o TCM, a aplicação será examinada no relatório
das contas da prefeitura, referentes ao exercício de 2001, que deverá ser concluído até 30 de junho.
Segundo especialistas ouvidos
pela Folha, a não-utilização de toda a verba do fundo não é suficiente para que as contas da prefeitura sejam rejeitadas pelo tribunal. O procedimento deve render apenas uma ressalva do TCM.
Outro lado
Segundo a Secretaria Municipal
das Finanças, a justificativa para
que tenha restado dinheiro do
Fundef é contábil. Para atender à
legislação, o município deveria ter
aplicado em ensino fundamental,
em 2001, R$ 1,05 bilhão de recursos próprios. Se tivesse utilizado
todo o recurso do Fundef, não teria atingido o valor mínimo de investimentos próprios.
A prática, de acordo com a prefeitura, é lícita, e está prevista na
Lei de Responsabilidade Fiscal.
De acordo com a secretaria, é
comum que uma parte dos gastos
-principalmente os previstos
para o final do exercício- seja
efetuada no ano seguinte. O saldo,
afirma a secretaria, permanece
em conta vinculada à educação.
A Secretaria Municipal da Educação informou que a verba restante do Fundef será utilizada na informatização da rede municipal de ensino, com a implantação de
15 mil computadores, que deve começar no próximo mês.
A prefeitura afirma que concedeu aumento de 5% aos professores, além de uma gratificação por desempenho, em dezembro do ano passado. Afirma ainda que
não poderia privilegiar com aumento maior os professores de
ensino fundamental, em detrimento dos de ensino infantil, cujos salários não podem ser pagos com verba do Fundef.
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