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PASQUALE CIPRO NETO
"Corpus Christi", "pari passu", "grosso modo"...
Hoje é feriado , e muita
gente não sabe por quê. Não
me cabe entrar no mérito religioso da questão; cabe-me, quando
muito, explicar o que não é difícil
deduzir: "Corpus Christi" significa "corpo de Cristo". Essa expressão latina, uma das tantas que ficaram em nossa língua, nomeia a
celebração do corpo de Cristo.
Na verdade, o nome da festa religiosa é só um belo pretexto para
tratar de um assunto que os leitores não se cansam de sugerir: a
forma e o significado de algumas
expressões latinas.
As mais pedidas são "a priori" e
"a posteriori", que muita gente
usa como simples marcadores de
tempo. "A priori" significaria
"antes", e "a posteriori", "depois".
Não é bem assim. Na verdade,
trata-se de termos relativos à filosofia. O "Aurélio" diz que se emprega "a priori" quando se faz referência a "conhecimento que se
admite provisoriamente, ainda
não suficientemente justificado,
sendo incerto se o virá a ser". "A
posteriori" se refere ao que resulta
de experiência ou dela depende.
Não se trata, pois, de nada tão
simples como "antes" e "depois".
Outra expressão latina que se
mantém em várias línguas é "pari
passu" (que não se grafa "par e
passo"): "Acompanhou "pari passu" o discurso do presidente". Essa
locução significa "a passo igual",
"simultaneamente".
Também é bom citar a expressão "grosso modo" ("de modo
grosseiro"; "aproximadamente"),
também usada na forma original
nos textos filosóficos, jurídicos etc.
Vale a pena conhecer este comentário do dicionário "Houaiss":
"Uso de caráter internacional
(das línguas de cultura ocidentais), no Brasil, modernamente
(mas por provável perda da competência), vem sendo dito e escrito
como "em grosso modo", "de grosso
modo", "a grosso modo", como locuções adverbiais vernáculas". E
agora, José? Em linguagem formal, convém usar "grosso modo".
É bom lembrar que, nos casos
em que se mantém a grafia original de expressão estrangeira, recomenda-se fazer alguma marcação gráfica (aspas, itálico etc.).
Bem, agora vamos passar do latim para o grego, para discutir
duas palavras que, por motivos
não muito nobres, têm sido lidas e
ouvidas com frequência: "pedofilia" e "pedófilo". Não foram poucos os leitores que escreveram para questionar o "verdadeiro significado" dessas palavras: "Se "pedo"
quer dizer "filho", "criança" e "filo"
significa "amante", "amigo", o significado de "pedófilo" não é "que
tem amor às crianças'?"
Pois bem, o significado literal é
esse mesmo, mas é interessante
ver o que registram vários dicionários, em edições de diferentes
"idades". O de Laudelino Freire
(de 1940) diz que "pedofilia" é
"amor às crianças". O "Morais"
(de 1949) diz que "pedófilo" é
"que gosta muito de crianças".
O "Aurélio" (1972) apenas tira o
"muito" do "Morais", mas na edição de 1999 diz que "pedófilo" é
"aquele que sofre de pedofilia",
que, por sua vez, define como "(...)
desejo forte e repetido de práticas
sexuais e de fantasias sexuais com
crianças pré-púberes". O dicionário da Academia das Ciências de
Lisboa e o "Houaiss", ambos de
2001, seguem o mesmo caminho.
Como se vê, os dicionários fazem
o que as leis deveriam fazer: ajustar-se à realidade. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br
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