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TRANSPORTE
Romero Niquini afirma que fez uma carta a pedido, para evitar atritos com dirigentes do sindicato
Empresário nega propina, mas diz ter ajudado sindicalista
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário de ônibus Romero Niquini admite, em entrevista à
Folha, a autenticidade de uma
carta na qual informou que pagava R$ 5.600 mensais a Edvaldo
Gomes de Oliveira, o Dentinho,
"para fazer frente aos gastos para
o bom desempenho de suas funções de representante sindical".
Niquini, porém, nega a veracidade de seu conteúdo e diz tê-la
feito a pedido de Dentinho, diretor de garagem do sindicato dos
condutores de São Paulo, para
evitar atrito com sindicalistas
-que queriam receber esse valor
da SPTrans quando as viações dele estavam sob intervenção.
O empresário, que tinha a segunda maior frota de São Paulo
até setembro de 2002, mas que
deixou de operar, diz que nunca
deu propina. Admitiu somente
ter dado "ajudas" para pagar jogo
de futebol, despesa médica, churrasco ou cerveja nas garagens.
As declarações de Niquini acontecem num momento em que os
donos das viações se tornaram os
principais alvos da força-tarefa
que investiga a existência de um
esquema no setor. Leia abaixo trechos da entrevista.
Folha - A carta que informa um
pagamento mensal de R$ 5.600 ao
Dentinho é verdadeira?
Romero Niquini - A carta, sim.
Mas a história é a seguinte: depois
de 50 dias que a garagem estava
sob intervenção da SPTrans, eu
fui comunicado de que estava na
minha ante-sala um diretor sindical, Edvaldo, Dentinho, junto
com companheiros de garagem.
Ele trouxe uma correspondência
do administrador da SPTrans que
pedia uma autorização para pagar
R$ 5.600, já que aquilo era costumeiro. Eu falei que não poderia. A
empresa estava sob intervenção,
eu não tinha a gerência. Falaram
que eu não estava querendo ajudar, que eles tinham as despesas
sindicais. Eu, não querendo comprar nenhum atrito, chamei meu
departamento jurídico para fazer
uma correspondência que pudesse satisfazê-los. Foi feita essa carta
na qual concordávamos que [a
SPTrans] pagasse e que, no período em que administramos, aquilo
era comum. Eu falei: não vou entrar no mérito, porque era para
ser um documento interno.
Folha - O sr. diz, então, que concordou em fazer essa carta apenas
para não criar um atrito?
Niquini - Para não criar um atrito com o pessoal que estava na intervenção, o diretor sindical e os
companheiros dele que estavam
ali e que falavam que tinham gasto aquilo com os empenhos das
garagens, com jogo de futebol.
Folha - A carta do sr. informa que,
antes da intervenção, a viação já
pagava ao Dentinho. O sr. nega?
Niquini - Com certeza. Não existia essa ajuda sistemática. Se houvesse alguma ajuda, era decidida
pelo gerente de garagem, que tinha autonomia. Mas normalmente a ajuda era o seguinte:
"Nós tivemos que pagar a internação da mulher de fulano de tal,
que o plano de saúde não pagou".
Daí a gente complementava. "Nós
tivemos um jogo de futebol, tem
que ter um churrasco, uma cervejada." Essas despesas vinham para mim dessa forma.
Folha - Mas havia, então, pedido
para pagar jogo de futebol...
Niquini - Eram despesas que às
vezes ocorriam na garagem. O gerente tinha autonomia. Nem chegava a mim.
Folha - Por que era ruim criar atrito com os sindicalistas?
Niquini - A carta foi feita primeiro porque era um pedido do interventor. Segundo porque veio
um diretor da garagem com outros companheiros. Terceiro porque, como a administração era da
SPTrans, eu não queria que dissessem que eu estava dificultando
qualquer ação do interventor com
o sindicato e a garagem. Eu tinha
esperança de que a garagem fosse
devolvida na maior paz possível.
Folha - O sr. já foi extorquido por
sindicalistas?
Niquini - Não. Mesmo porque tive pouca oportunidade de me
reunir com sindicalistas.
Folha - O Dentinho era diretor
sindical de uma garagem do sr. e
tem uma casa em Itu posta à venda
por R$ 380 mil. O sr. acha natural?
Niquini - Fica difícil de comentar. Parte da individualidade de
cada um. Eu nem tinha intimidade com ele para ter esse tipo de informação.
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