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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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TRANSPORTE

Romero Niquini afirma que fez uma carta a pedido, para evitar atritos com dirigentes do sindicato

Empresário nega propina, mas diz ter ajudado sindicalista

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário de ônibus Romero Niquini admite, em entrevista à Folha, a autenticidade de uma carta na qual informou que pagava R$ 5.600 mensais a Edvaldo Gomes de Oliveira, o Dentinho, "para fazer frente aos gastos para o bom desempenho de suas funções de representante sindical".
Niquini, porém, nega a veracidade de seu conteúdo e diz tê-la feito a pedido de Dentinho, diretor de garagem do sindicato dos condutores de São Paulo, para evitar atrito com sindicalistas -que queriam receber esse valor da SPTrans quando as viações dele estavam sob intervenção.
O empresário, que tinha a segunda maior frota de São Paulo até setembro de 2002, mas que deixou de operar, diz que nunca deu propina. Admitiu somente ter dado "ajudas" para pagar jogo de futebol, despesa médica, churrasco ou cerveja nas garagens.
As declarações de Niquini acontecem num momento em que os donos das viações se tornaram os principais alvos da força-tarefa que investiga a existência de um esquema no setor. Leia abaixo trechos da entrevista.

Folha - A carta que informa um pagamento mensal de R$ 5.600 ao Dentinho é verdadeira?
Romero Niquini -
A carta, sim. Mas a história é a seguinte: depois de 50 dias que a garagem estava sob intervenção da SPTrans, eu fui comunicado de que estava na minha ante-sala um diretor sindical, Edvaldo, Dentinho, junto com companheiros de garagem. Ele trouxe uma correspondência do administrador da SPTrans que pedia uma autorização para pagar R$ 5.600, já que aquilo era costumeiro. Eu falei que não poderia. A empresa estava sob intervenção, eu não tinha a gerência. Falaram que eu não estava querendo ajudar, que eles tinham as despesas sindicais. Eu, não querendo comprar nenhum atrito, chamei meu departamento jurídico para fazer uma correspondência que pudesse satisfazê-los. Foi feita essa carta na qual concordávamos que [a SPTrans] pagasse e que, no período em que administramos, aquilo era comum. Eu falei: não vou entrar no mérito, porque era para ser um documento interno.

Folha - O sr. diz, então, que concordou em fazer essa carta apenas para não criar um atrito?
Niquini -
Para não criar um atrito com o pessoal que estava na intervenção, o diretor sindical e os companheiros dele que estavam ali e que falavam que tinham gasto aquilo com os empenhos das garagens, com jogo de futebol.

Folha - A carta do sr. informa que, antes da intervenção, a viação já pagava ao Dentinho. O sr. nega?
Niquini -
Com certeza. Não existia essa ajuda sistemática. Se houvesse alguma ajuda, era decidida pelo gerente de garagem, que tinha autonomia. Mas normalmente a ajuda era o seguinte: "Nós tivemos que pagar a internação da mulher de fulano de tal, que o plano de saúde não pagou". Daí a gente complementava. "Nós tivemos um jogo de futebol, tem que ter um churrasco, uma cervejada." Essas despesas vinham para mim dessa forma.

Folha - Mas havia, então, pedido para pagar jogo de futebol...
Niquini -
Eram despesas que às vezes ocorriam na garagem. O gerente tinha autonomia. Nem chegava a mim.

Folha - Por que era ruim criar atrito com os sindicalistas?
Niquini -
A carta foi feita primeiro porque era um pedido do interventor. Segundo porque veio um diretor da garagem com outros companheiros. Terceiro porque, como a administração era da SPTrans, eu não queria que dissessem que eu estava dificultando qualquer ação do interventor com o sindicato e a garagem. Eu tinha esperança de que a garagem fosse devolvida na maior paz possível.

Folha - O sr. já foi extorquido por sindicalistas?
Niquini -
Não. Mesmo porque tive pouca oportunidade de me reunir com sindicalistas.

Folha - O Dentinho era diretor sindical de uma garagem do sr. e tem uma casa em Itu posta à venda por R$ 380 mil. O sr. acha natural?
Niquini -
Fica difícil de comentar. Parte da individualidade de cada um. Eu nem tinha intimidade com ele para ter esse tipo de informação.


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