São Paulo, Domingo, 30 de Maio de 1999
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Pacientes ainda sofrem na fila da cirurgia

da Reportagem Local

O debate entre a droga e o bisturi ainda não chegou para muitos pacientes brasileiros. A fila aqui ainda é pela cirurgia, que poderia salvar milhares de vidas. O número de pacientes operados do coração no país está em torno de 180 a 200 por milhão de habitantes.
Nos EUA, são 1.100 cirurgias das coronárias por milhão de pessoas. "É um exagero, mas no Brasil ainda há muito por fazer", diz Enio Buffolo, que já presidiu a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Na sua opinião, a média ideal seria aquela dos países do oeste europeu, onde são feitas 600 cirurgias cardíacas por milhão de habitantes, três vezes mais que no Brasil.
O número de cirurgias vem aumentando também em função das novas tecnologias. "Entre nossos pacientes, 5% a 7% têm mais de 75 anos", diz Sérgio Oliveira, que faz em média três cirurgias por dia. Vinte anos atrás, pouquíssimas pessoas nessa idade faziam cirurgias. As operações também são feitas em recém-nascidos.
No grupo dos novos beneficiados, estão pacientes diabéticos e mesmo aqueles com lesões importantes que antes não tinham esperança, lembra Adib Jatene.
Em alguns casos, a cirurgia traz uma qualidade de vida que a angioplastia ou os remédios não oferecem. O cardiologista Juarez Ortiz, 51, especialista em diagnóstico, indicou para si próprio uma cirurgia depois de ter se submetido, com sucesso, a uma angioplastia.
"Costumo pescar em alto mar com meus filhos e queria me sentir absolutamente seguro", relata Ortiz, que é candidato à presidência da SBC. Ele mesmo escolheu a equipe que implantou em seu coração a ponte de safena. "Em um mês, retomei todas as atividades." Inclusive as pescarias.
Na sua opinião, o futuro da cardiologia está na informática, que ajudará a definir com precisão o procedimento mais adequado.
Enquanto a cirurgia se sofistica e beneficia pacientes mais complexos, a angioplastia se firma como a solução para a grande maioria dos pacientes. "Só o Incor já fez 15 mil angioplastias, o que significa que 10 mil pacientes evitaram a operação", diz o cardiologista Wady Hueb. Estima-se que, de cada três pacientes que há 15 anos eram operados, dois podem se beneficiar da angioplastia.
Em dois dias, o paciente está em casa e em uma semana retoma as atividades.
Entre 1996 e 1997, 22.025 pacientes se submeteram à angioplastia no país. Segundo um estudo conduzido por Amanda Souza e colaboradores, da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, 92,8% dos casos foram bem-sucedidos. Nos anos de 92 e 93, a taxa de sucesso era de 89,7%. O estudo foi publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia da SBC.


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