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SAÚDE
Benefício de cirurgia divide cardiologistas
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
O que é melhor para o paciente
cardíaco, passar por uma cirurgia
como as de ponte de safena ou fazer tratamento com remédios?
A questão divide os maiores especialistas brasileiros e duas pesquisas, uma americana e outra no
Brasil, incendiaram a polêmica.
A pesquisa americana, publicada
pelo "New England Journal of Medicine", questionou os benefícios
das cirurgias e angioplastias (dilatação de artérias com ajuda de um
cateter). O estudo separou em dois
grupos 920 pacientes que sofreram
um tipo de infarto do miocárdio de
gravidade leve ou moderada.
Um grupo passou por cirurgia
ou angioplastia. Outro, recebeu
medicamento. O resultado foi favorável aos medicamentos: a taxa
de morte e de novos ataques cardíacos foi menor após um mês e
após um ano entre aqueles que só
tomaram remédio.
O estudo brasileiro, conduzido
pelo médico Whady Hueb, do Instituto do Coração de São Paulo,
observou que pacientes submetidos a cirurgia, angioplastia ou medicamento tiveram evolução semelhante.
"A cirurgia é uma violência", diz
Hueb. "Em dez anos, as doenças
do coração serão tratadas por cateter, e a cirurgia será restrita a casos
excepcionais."
"A cirurgia é uma dádiva para
muitos e continuará salvando vidas", rebate Sérgio de Almeida Oliveira, chefe do grupo de cirurgia
torácica do Incor e um dos maiores
especialistas em pontes de safena.
O estudo americano é contestado
por outros especialistas que o consideram inconclusivo e distorcido
por colocar num "mesmo saco"
pacientes em diferentes situações
clínicas, graves e não graves.
Para eles, vários trabalhos já demonstraram que as pessoas operadas têm melhor qualidade de vida
e maior sobrevida comparadas
com as tratadas com remédios.
O único consenso entre os médicos é que, por enquanto, a cirurgia
de ponte de safena vem trazendo
benefícios inquestionáveis. "É
possível que daqui a 20 anos se
descubra que estamos fazendo coisa errada, mas hoje a cirurgia vem
salvando muitas vidas", diz o cardiologista clínico Bernardino
Tranquesi.
Mas a evolução da medicina, os
métodos de diagnósticos e o conhecimento da doença coronariana vêm provocando mudanças na
escolha dos procedimentos.
Um infartado de 60 anos com
certeza receberia uma ou mais
pontes de safena se fosse internado
no início dos anos 70. "Naquela
época, quase todas as lesões tinham a indicação de cirurgia", diz
Tranquesi.
Cinco anos atrás, o mesmo paciente poderia ser salvo com uma
angioplastia. Hoje, é possível que
venha a ser tratado com drogas.
Adib Jatene, diretor-geral do Incor, lembra que "não se deve tratar
todo mundo da mesma forma",
como fez a pesquisa norte-americana. "Apenas os pacientes com
risco de vida ou risco de um infarto
extenso são operados. A cirurgia,
hoje, é indicada para um grupo de
apenas 15% a 20% das pessoas com
doenças coronárias."
Diante do leque do opções, a escolha do procedimento mais adequado é hoje um desafio para os
médicos. "O segredo da arte está
em indicar o melhor caminho para
cada paciente", diz Enio Buffolo,
professor titular de cirurgia cardiovascular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) .
Ou seja, a vantagem de um ou
outro método vai depender das
condições clínicas do paciente.
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