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RETRATOS DO BRASIL
População negra de áreas metropolitanas de São Paulo e do Rio é 48,99% mais pobre que a branca
Taxa de pobreza é mais alta entre negros
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Nas duas maiores regiões metropolitanas do Brasil, São Paulo e
Rio de Janeiro, a linha que separa
pobres do resto da população sobe ou desce de acordo com a cor
da pele: nessas regiões, 44,4% dos
negros -aproximadamente 5
milhões de pessoas- estão abaixo da linha de pobreza.
Uma análise do economista
Marcelo Paixão, professor da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro), mostra que a taxa
de pobreza entre negros é 48,99%
mais alta que entre brancos.
Nessas duas regiões metropolitanas, 29,8% dos brancos são pobres. Para o total da população
dessas áreas, a taxa é de 35,5%.
O estudo mostra que a concentração de pobreza entre negros
não é, como se poderia imaginar,
restrita aos rincões do país e às comunidades descendentes de quilombos, mas também um problema das grandes metrópoles.
Na região metropolitana de São
Paulo, os dados são ainda piores:
52,9% dos negros são pobres, ou
seja, vivem com menos de R$
176,29 mensais. A taxa é de 30,9%
para os brancos. Na região metropolitana do Rio, a pobreza afeta
42,3% dos negros e 23,5% dos
brancos. São pessoas que vivem
com menos de R$ 135,02.
Para obter esses resultados, Paixão usou dados do Censo 2000
feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O
economista contabilizou como
negros, ou "afrodescendentes", a
soma dos grupos que o IBGE classifica como pretos e pardos.
Depois aplicou a metodologia
mais usada no Brasil para definir
pobreza, a do Ipea (Instituto de
Pesquisas Econômicas Aplicadas)
-que classifica como pobres
33,64% da população brasileira,
cerca de 57 milhões de pessoas.
A linha de pobreza indicada pelo Ipea é estabelecida a partir de
uma cesta de referência que inclui
alimentos e serviços essenciais,
como saúde, educação e transportes. São considerados indigentes aquelas pessoas que não conseguem nem mesmo suprir necessidades alimentares mínimas:
14,6% dos brasileiros, cerca de
24,7 milhões de pessoas.
Nas duas regiões metropolitanas analisadas, as taxas de indigência também são mais altas entre negros -10,1%- que entre
brancos -5,7%. Para o total da
população dessas áreas, a taxa de
indigência é de 7,5%.
O estudo inaugura o Observatório Afro-Brasileiro, organização
criada para divulgar indicadores
socioeconômicos sobre população negra no Brasil. O centro tem
o apoio do IPDH (Instituto Palmares de Direitos Humanos) e do
Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais).
O estudo mostra ainda que, nas
regiões metropolitanas do Rio e
de São Paulo, os negros ganham
salários mais baixos e são menos
alfabetizados do que os brancos.
Em São Paulo, o rendimento
per capita dos brancos (R$
299,58) era, em média, 126,6% superior ao dos negros (R$ 132,23).
No Rio, as mulheres brancas recebiam 105% a mais que as negras.
A concentração de pobreza entre negros é um problema nacional. O Ipea já apontou a existência
de 46,8% de negros abaixo da linha de pobreza no Brasil. Entre
brancos, a taxa é de 22,4%.
"A gente sabe que, no Brasil, a
pobreza tem cor: é negra. Os negros estudam menos, ganham
menos e são mais pobres", afirma
Paixão, que é negro também.
Entre os pobres, os negros estão
sempre sobre-representados, ou
seja, aparecem em proporção
maior do que a existente no conjunto da população.
Na região metropolitana de São
Paulo, por exemplo, 45% dos pobres são negros, mas, na população em geral, a proporção de negros cai para 32,1%. No Rio acontece o mesmo: entre os pobres,
60,4% são negros, uma proporção
maior de negros que a verificada
na população total, 53,5%.
A situação se torna mais grave
pela quantidade de pessoas afetadas -nas grandes metrópoles, o
grupo negro, pobre e excluído está sempre na casa dos milhões de
habitantes. Na região metropolitana de São Paulo, são 2,9 milhões
de negros abaixo da linha de pobreza. Na região metropolitana
do Rio, o número é de 2,1 milhões.
"Pouca gente se dá conta, mas,
em números absolutos, São Paulo
é a maior cidade negra do país",
afirma Paixão.
A titular da Secretaria Especial
de Políticas de Promoção da
Igualdade, Matilde Ribeiro, reconheceu a concentração de pobreza entre negros e mulheres no
Brasil e defendeu a utilização, em
todas as políticas sociais, de mecanismos de combate à desigualdade racial. Ela defende a existência de cotas, principalmente nas
áreas de educação e trabalho.
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