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São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2003

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Costureiras saem da "caverna"

DA SUCURSAL DO RIO

No morro do Cantagalo (zona sul do Rio de Janeiro), as costureiras negras da cooperativa Corte e Arte têm uma expressão para definir a mudança em suas vidas: sair da "caverna".
Quem está na "caverna" é quem está em casa, sem dinheiro, sem trabalho, com fome e sem motivação para a vida. Muitas dessas mulheres caem em depressão.
Para as mulheres da cooperativa do morro do Cantagalo, costurar foi a forma para reduzir a pobreza e melhorar de vida. Quase todas elas são negras e já enfrentaram o racismo quando foram procurar trabalho.
"Muitas vezes a gente não consegue subir no emprego lá fora só porque é negro. A gente é do morro, a gente tem menos estudo, aí tudo fica mais difícil. Pobreza é isso", afirma Elisete da Silva Napoleão, 39, uma das costureiras do grupo.

Sem depressão
Sônia Maria Batista de Souza, 44, estava em depressão por causa da doença do filho, que foi vítima de paralisia cerebral. "Aí eu vim costurar, ter um trabalho. Consigo juntar um dinheirinho, compro as coisas e ainda cuido do meu filho", diz.
As costureiras fabricam peças de roupa, por encomenda ou não, que são vendidas em feiras ou no próprio Cantagalo. Dependendo da produção e das vendas, elas conseguem tirar de R$ 200 a R$ 350 mensais.
A cooperativa existe há nove anos. Aos poucos o trabalho foi crescendo e ganhou financiamento do FundoAfro, um fundo de apoio a populações negras, coordenado pelo Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas). O centro recebe recursos da Fundação Interamericana, sediada nos Estados Unidos.
"A pobreza negra é uma realidade. O governo adotou medidas simbólicas importantes, como a nomeação de negros para cargos públicos, mas é cedo para ver efeitos do ponto de vista prático. O negro tem de ser incluído nas políticas públicas", afirma Ivanir dos Santos, coordenador do Ceap.
O FundoAfro financia hoje 65 projetos de geração de renda, combate à pobreza e ação comunitária, cada um com verbas iniciais de R$ 3 mil a R$ 7 mil. Além das costureiras do morro do Cantagalo, há projetos voltados para grupos de jovens e outros de informática. (FE)


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