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MOACYR SCLIAR
Esperando o rei Arthur
O que quer, a voz? O que quer, a mulher que o chama? Será que está precisando do guerreiro da Excalibur? Será?
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Nova biografia conta como Diana decidiu se casar com Charles e revela detalhes do seu relacionamento com o futuro
rei dos britânicos. "The Diana Chronicles" é o mais completo relato da trágica
vida da princesa Diana, cuja morte num
acidente de carro, em Paris, completa
dez anos em 31 de agosto. Logo nas primeiras páginas, a autora Tina Brown escancara um dos segredos mais íntimos do herdeiro do trono da Inglaterra.
Quando está em estado pré-ejaculatório,
Charles gosta que sua parceira o chame
de Arthur, primeiro sussurrando no seu
ouvido, depois mais alto, mais alto, mais
alto... Mundo, 29 de julho.
NÃO SE SABE ao certo se alguma
vez existiu um rei britânico
chamado Arthur, ou se se
trata de uma figura lendária, dessas
que a imaginação popular freqüentemente cria para satisfazer a humana necessidade da crença em heróis
poderosos. Mas, para os que acreditam em sua existência (e estes, entre
parênteses, não são poucos) Arthur
foi um valente monarca, que reinou
na Inglaterra por volta do quinto ou
do sexto século, e que enfrentou
com galhardia os invasores anglo-saxões em várias batalhas. Numa
delas, segundo a tradição, matou, sozinho, 960 inimigos. Arthur tinha
uma espada famosa, a Excalibur. Diz
a lenda que esta espada permaneceu
por muito tempo cravada numa rocha, da qual ninguém poderia arrancá-la. O jovem Arthur resolveu tentar e, para surpresa de todos, extraiu
a Excalibur com a maior facilidade.
A partir daí foi sagrado rei, e, sempre
empunhando a Excalibur, enfrentou com bravura os inimigos do seu
reino tornando-se um modelo de líder guerreiro. Desde então a Excalibur excita imaginações. Não são
poucos aqueles que se vêem empunhando a espada e mergulhando-a
sem piedade no corpo de seus inimigos. A Excalibur é um símbolo. Como o é o rei Arthur.
Mas o que, afinal, aconteceu com
ele? De novo: não se sabe. Mesmo
que tenha existido, certamente está
morto, dizem os céticos. A isto reagem os admiradores do rei. Para
eles, Arthur não morreu. Continua
vivo, em algum mítico lugar. Ali está
ele, sentado em seu trono, empunhando a Excalibur. E o que faz? Nada, uai. Reis, em princípio, não têm
obrigação de fazer nada, e mesmo
que tivessem tal obrigação, dela Arthur agora estaria livre. Doze batalhas! Novecentos e sessenta inimigos trucidados em apenas uma delas! Cumpri o meu dever, pode Arthur sussurrar para a sua querida
Excalibur. Que, como toda a espada,
mesmo mágica, não contestará. No
lugar onde estão reina o silêncio. O
silêncio da eternidade.
Mas este silêncio às vezes é rompido. Às vezes o rei Arthur ouve, ou
pensa ouvir, uma voz a chamá-lo.
Uma voz feminina, uma voz ardente, a voz de uma mulher que está no
auge da paixão e quer que seu parceiro também chegue ao auge da
paixão. É uma voz que vem de longe,
de um lugar e de um tempo agora
inacessíveis para Arthur. Isto inquieta o monarca. Ele, que nunca teve medo de nada, que sempre enfrentou os maiores desafios, perturba-se. O que quer, a voz? O que quer,
a mulher que o chama? Será que está
precisando do guerreiro da Excalibur? Será?
Para esta pergunta o rei não tem
resposta. E isto o inquieta. Não poderiam, esses dois, fazer amor em silêncio?, pergunta, angustiado, à sua fiel Excalibur. Que, no entanto, não
lhe responde. Mesmo as espadas
mágicas não têm resposta para tudo.
MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto
de ficção baseado em notícias publicadas na Folha
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