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VIOLÊNCIA
Protesto contra repressão policial reuniu cerca de 300 pessoas; segundo organizadores, houve intimidação oficial
Fracassa manifestação de favelas no Rio
Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
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Morador de favela cobre o rosto para evitar ser filmado pela PM |
FERNANDA DA ESCÓSSIA
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
As ações de intimidação promovidas na última semana pelo
governo do Estado conseguiram
provocar o fracasso do ato da FLP
(Frente de Luta Popular), realizado ontem no centro do Rio como
um Dia de Luta do Povo contra a
Violência.
Entre os 300 manifestantes
-320, pelos cálculos da Polícia
Militar-, havia apenas cerca de
cem moradores de favela, quase
todos vindos do conjunto Bancários, na Ilha do Governador (zona
norte). Os demais eram integrantes de movimentos organizados.
Eram esperadas 2.000 pessoas.
O secretário da Segurança, Josias Quintal, definiu o evento como um "fiasco", em nota oficial.
"Essa manifestação não foi legítima, pois não contou com a aprovação dos parentes dos mortos na
chacina nem das verdadeiras lideranças comunitárias."
O ato foi anunciado na semana
passada em protesto contra a violência policial e em memória dos
sete anos da chacina de Vigário
Geral. O governador Anthony Garotinho (PDT) determinou então
que todas as manifestações fossem filmadas, alegando que elas
estariam sendo incitadas pelo tráfico de drogas. Foram abertos inquéritos para apurar a possível ligação de líderes comunitários
com traficantes.
A pequena adesão das comunidades ao ato de ontem teria resultado, na avaliação dos próprios
organizadores, do anúncio de que
tudo seria filmado pela PM -o
que de fato aconteceu. Muitos
manifestantes cobriram o rosto.
A PM acompanhou tudo com
60 homens na Candelária e mais
140 espalhados pelo centro da cidade. No meio da tarde, ainda havia mais PMs que manifestantes.
"O fato de haver pouca gente
das comunidades não diminui o
ato, os movimentos sociais também são do povo. Mas eu gostaria
de saber por que o governo não
filma as manifestações dos ricos.
Quero saber se filmar manifestação é tarefa da PM", questionou
André Fernandes, 29, coordenador do movimento Favelania e dirigente da FLP.
Segundo ele, os moradores de
favela faltaram porque temeram
ser identificados pelos PMs que
trabalham nas comunidades. Ficou clara, porém, a dificuldade da
FLP para mobilizar as favelas.
Além dos moradores da Ilha do
Governador, também havia representantes do morro da Mineira e da favela de Acari.
Dos integrantes de movimentos
organizados, havia 65 sem-teto
trazidos pelo MTST (Movimento
dos Sem Teto), além de membros
do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), universitários, padres, pastores evangélicos, militantes de partidos de
esquerda, funkeiros, sindicalistas
da CUT (Central Única dos trabalhadores) e líderes comunitários.
Também estavam representados grupos tão diversos como o
Movimento Anarco-Punk, o Movimento Negro Unificado e o Movimento Pré-Vestibular para Negros e Carentes.
Entre os participantes, havia
desde gente que não sabia muito
bem do que se tratava "a tal passeata" -como a sem-teto Priscila
Oliveira, 25- até pessoas indignadas com a violência policial.
"Não dá mais para suportar a polícia invadindo a nossa casa. Basta
de morrer gente", afirmou a doméstica Renata Manhães, 22.
O presidente da Associação dos
Moradores do Jacarezinho, Rumba Gabriel, faltou ao evento depois que a polícia ameaçou investigá-lo por incitação ao crime.
Acabou sendo chamado de "soldado covarde" (veja texto nesta
página).
A manifestação foi pacífica,
com palavras de ordem, faixas e
músicas puxadas por funkeiros e
integrantes do movimento hip
hop. Não houve incidentes. No final da tarde, os manifestantes saíram em passeata rumo à Central
do Brasil.
Colaborou Pedro Dantas, da Sucursal
do Rio
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