São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2000


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IMPRENSA
Laudos da perícia derrubam provas que os advogados da família de Sandra Gomide pretendiam usar contra Pimenta Neves
E-mails e gravações não contêm ameaças

DA REPORTAGEM LOCAL

Os laudos do Instituto de Criminalística de São Paulo irão mostrar que os e-mails e as fitas cassetes apreendidas na casa da jornalista Sandra Florentino Gomide, assassinada a tiros pelo ex-namorado e jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, não contêm ameaças de morte.
Os advogados da família da vítima queriam usar esse material mais o depoimento da única testemunha do crime (o caseiro do haras onde a morte ocorreu) no conjunto de provas contra Pimenta Neves, ex-diretor de Redação do jornal ""O Estado de S.Paulo". A intenção seria mostrar que ela vinha sendo perseguida pelo ex-namorado.
A varredura feita sexta-feira passada no apartamento de Sandra, em São Paulo, também não localizou vestígios de que o telefone dela tivesse sido grampeado por ele, conforme a própria jornalista suspeitava em e-mail enviado a uma amiga. ""Isso não quer dizer que o telefone não esteve grampeado", afirmou o diretor do IC, Valdir Santoro.
Esses três laudos, mais o de confronto balístico -se a arma entregue por ele é a mesma do crime- e a íntegra do depoimento de Pimenta Neves gravado em fita cassete, serão enviados amanhã para o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) e para a Justiça.
Ontem, o IC concluiu o relatório de perícia sobre o local do crime, feito no dia do assassinato.
O laudo mostra que os dois tiros que atingiram Sandra foram disparados a mais de 35 centímetros de distância. Isso porque, segundo o documento, não havia vestígio de pólvora no corpo da vítima.
O caseiro João Quinto de Souza disse à polícia que o primeiro tiro de Pimenta Neves foi dado a dois metros de Sandra, quando ela já estava de costas para ele tentando correr (leia texto ao lado).
O segundo disparo, mais próximo, atingiu a cabeça dela, mas o laudo não confirma se ela já estava caída. ""Isso pode ser explicado com uma reconstituição, se a Promotoria julgar necessária", disse Santoro. Souza afirmou que ela já estava caída de bruços no chão.
O advogado Márcio Thomaz Bastos, que representa a família de Sandra, não quis comentar a avaliação dos peritos. Disse apenas que os xingamentos já serviriam para comprovar a agressividade de Pimenta Neves.
A trajetória da crise entre o jornalista e sua ex-namorada pode ser reconstituída por partes dos cerca de 30 e-mails que estavam no computador que a polícia apreendeu no apartamento dela.
""Há uma mensagem em que ele propõe uma reconciliação, outra em que revela inconformidade com o término da relação e mais uma em que ficam demonstradas a revolta e a agressividade, ao se dirigir a ela com palavras de baixo calão", afirmou Santoro. O IC não divulgou as íntegras.
Segundo peritos, Sandra se correspondeu com amigos e com o próprio Pimenta Neves, sem mostrar a mesma agressividade que ele. Também foram identificadas mensagens para outro homem, que, segundo a polícia, denotariam um início de namoro.
A jornalista morta havia se separado um mês antes do ex-chefe e estaria se envolvendo em outra relação, ainda não confirmada.
Das quatro minifitas cassetes recolhidas na casa dela, de acordo com o IC, três eram usadas no dia-a-dia da jornalista e registram apenas entrevistas de trabalho. A última fita, no entanto, é a da secretária eletrônica da casa de Sandra, mas não foram encontradas mensagens relacionadas com o romance entre os dois.
Bastos e o advogado Luiz Flávio Gomes, que representam a família da vítima, pediram ao Ministério Público Estadual que a polícia levante informações sobre o comportamento de Pimenta Neves em casa e no trabalho, além da possibilidade de ele já ter condenação fora do país.
Está marcada para hoje, às 11h, uma reunião entre os advogados da família Gomide e a promotora Lúcia Nunes Bromerchenkel para discutir a estratégia de acusação.
O defensor de Pimenta Neves, Antonio Claudio Mariz de Oliveira, não foi encontrado ontem até o fechamento desta edição para comentar os laudos.
Mariz de Oliveira disse anteontem que irá recorrer da decretação da prisão preventiva e que pretende alegar crime passional na defesa de seu cliente.
Ontem à noite, o jornalista seria examinado por psiquiatras do Imesc (Instituto de Medicina Social e Criminológica do Estado de São paulo), na clínica onde onde ele está internado após tentativa de suicídio, para saber se é necessário manter a internação ou se ele já pode ser transferido para uma das celas da cadeia do DHPP.


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