São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE
Pais de menino de 3 anos afirmam que cirurgião queria receber "por fora", apesar de plano cobrir os custos do procedimento
Médicos são denunciados por omissão


PEDRO DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO

Familiares do menino Nathan Barbosa Oliveira, 3, denunciaram por omissão cirurgiões da clínica Albert Sabin, em Niterói (a 14 km do Rio). O diretor da clínica, Moacyr Magalhães Campos, confirmou a denúncia.
Segundo os pais do menino, mesmo com o plano de saúde cobrindo os gastos, os médicos se negaram a fazer uma cirurgia de gastrostomia para permitir que Nathan se alimentasse. Eles teriam exigido "receber pagamento por fora", por considerarem baixos os valores pagos pela empresa de seguro-saúde.
Nathan sofre de hidrocefalia -excesso de água no cérebro-e, após contrair encefalite há três meses, acabou perdendo gradativamente a capacidade de mastigação, além de sofrer perda parcial de visão e audição.
"Acho que foi falta de ética médica. Eles alegaram que não fariam a cirurgia porque não receberiam pela tabela do plano", disse a mãe de Nathan, Rose Barbosa Oliveira.
"Os médicos alegaram que o pagamento pela tabela da Golden Cross é 20% menor do que o praticado pela Associação Médica Brasileira. Por isso se negaram a operar o paciente, que foi transferido", disse Moacyr Magalhães Campos, o diretor da clínica.
Segundo a família de Nathan, após a recusa do primeiro cirurgião em realizar a operação, um outro médico teria se prontificado a fazê-la, mas desistiu ontem, dia da cirurgia, alegando "que estava sofrendo pressões dos colegas para não fazer o trabalho".
Campos disse que vai criar uma comissão de ética para investigar o caso e que os dois médicos devem ser desligados da clínica.
A Golden Cross, o plano de saúde que atende Nathan, confirmou à Folha que a empresa já havia autorizado a cirurgia e até o atendimento domiciliar pós-operatório ao paciente.
A empresa disse que tem tabela de honorários própria e que os valores praticados estão no mesmo patamar das operadoras do mercado.
Após 46 dias de internação em duas clínicas, Nathan foi transferido ontem para uma terceira clínica, em Botafogo ( zona sul do Rio), onde o diretor da clínica Albert Sabin disse que o menino será operado.
A diretora do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro), Márcia Rosa Araújo, disse que vai se manifestar sobre o caso apenas após a formalização da queixa da família.
No entanto, ela revelou que a entidade recebe cerca de 200 queixas por mês ligadas a atendimentos em planos de saúde.
"A maioria dos casos termina em sindicância e 25% das queixas evoluem para processos éticos. É preciso que os planos de saúde, médicos e hospitais façam a distinção entre cirurgias eletivas e casos de urgência, cuja recusa é grave erro de ética médica", afirmou Márcia.


Texto Anterior: Morre no Rio de Janeiro o ator Francisco Dantas
Próximo Texto: Serra compra medicamento sem apresentar a receita obrigatória
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.