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AIDS
Decisão é primeiro passo para quebrar patentes de três medicamentos, que consomem 65% dos gastos com produtos contra a doença
Governo vai importar genérico contra o HIV
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
O ministro da Saúde, Humberto
Costa, disse ontem que o governo
deve autorizar, nos próximos
dias, a importação de três medicamentos genéricos contra a Aids
protegidos por patentes no Brasil:
lopinavir, efavirenz e nelfinavir.
O anúncio foi feito em Recife,
onde o ministro liberou R$ 36 milhões para investimentos em laboratórios oficiais, com o objetivo
de integrar as instituições.
A importação dos genéricos,
produzidos na Índia, é o primeiro
passo para a quebra da patente
desses produtos, que passariam a
ser fabricados no país em cerca de
um ano. Os laboratórios que detêm as patentes são Merck Sharp
& Dohme, Roche e Abbott.
Segundo o ministro, o governo
gasta hoje com os três remédios
65% dos R$ 550 milhões que investe por ano na compra de todos
os medicamentos contra a Aids.
Com a importação e a quebra de
patente, ele estima que os custos
cairiam em até 50%.
A minuta do decreto, disse Costa, já está na Casa Civil "para receber os ajustes jurídicos". "Creio
que na próxima semana o presidente [Luiz Inácio Lula da Silva]
deva assinar [o decreto]", disse.
Ele disse que Lula "está consciente" da eventual necessidade
de o país quebrar as patentes, em
uma "negociação muito dura
com as três empresas farmacêuticas" sobre preços -ele considera
"razoável" uma redução de 30%.
"Até o momento, não temos tido muito sucesso em reduzir os
valores." Diante disso, disse Costa, "ingressamos em uma situação
de emergência" e, se não houver
consenso sobre preços, "vamos
adquirir o genérico no exterior e
fortalecer a nossa capacidade de
produzi-los no ano que vem".
Segundo o ministro, "nenhum"
remédio teve a patente quebrada
no Brasil até agora. "É isso que o
povo não sabe", disse. "Vendeu-se a idéia de que se quebrou patentes, mas, na verdade, houve
ameaça de que seriam quebradas
e estabeleceu-se negociação", declarou, referindo-se ao seu antecessor no cargo e candidato derrotado à Presidência, José Serra.
"Hoje estamos sofrendo essa situação exatamente porque a indústria internacional sabe que o
Brasil não tem capacidade de produção nesse momento", afirmou.
"Se tivéssemos feito aquela disputa e investido para que os laboratórios produzissem esses medicamentos, estaríamos em situação
muito melhor para negociação."
O Ministério da Saúde estima
que 600 mil pessoas convivem
com o HIV no Brasil. Desses, 200
mil têm a doença diagnosticada
-137 mil são tratadas com remédios fornecidos pela rede pública.
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