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TRAGÉDIA EM GUARULHOS
Prédio não tinha alvará de construção; dono do imóvel e organizador do evento estão desaparecidos
Piso cede, mata 6 jovens e fere 130 em festa
SÍLVIA CORRÊA
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Seis jovens morreram e mais de
130 ficaram feridos em um desabamento ocorrido por volta da
1h30 de ontem, durante uma festa
no centro de Guarulhos (Grande
São Paulo). O evento era completamente clandestino -o prédio
não tinha licença da prefeitura
nem para ser construído, muito
menos para funcionar.
Havia cerca de mil pessoas no
local, segundo relato de sobreviventes. A Polícia Civil fala em 600.
A maior parte do público era de
estudantes, pois os convites foram vendidos durante a semana
em bares vizinhos a universidades, segundo indicações do panfleto de promoção do evento.
O imóvel onde ocorreu o acidente é uma espécie de galpão de
cerca de 350 m2 e mais de seis metros de altura. O pé-direito foi
aproveitado para a construção de
um mezanino sobre todo o andar
térreo. Foi ele que desabou.
"O som parou e o chão sumiu.
Foi um estrondo: bruuumm. Não
se via nada por causa da poeira. E
ninguém gritava. Ficou todo
mundo atônito", narra a advogada Andréa Batista, 26, que ficou
ilhada com cinco amigos na única
faixa de mezanino que não desabou, nos fundos do galpão.
O mezanino caiu em forma de
V, lançando cerca de 17 toneladas
de concreto e ferro sobre os que
dançavam no térreo, na pista de
axé. Lá estavam os seis jovens que
morreram -com idades entre 14
e 25 anos. Eles sofreram traumatismos diversos. Um ferido deve
ficar paraplégico.
Chamada Ladies First, a festa
era restrita a mulheres das 22h à
0h, período em que ocorreu um
show de stip-tease dos dançarinos
do "Clube das Mulheres". O acidente ocorreu pouco depois de a
entrada dos homens ser liberada,
o que dobrou a lotação da casa. Os
ingressos custavam R$ 10 e R$ 15.
O evento teria sido organizado
por Heric Fabiano Dias e divulgado por Claudio Perereca.
Já a obra do prédio está registrada na Prefeitura de Guarulhos em
nome de Wilson Gonçalves, um
comerciante conhecido como
Wilson Gaivota, proprietário de
casas de bingo na cidade.
Até a noite de ontem, nenhum
dos três havia sido localizado,
mas não eram considerados foragidos pela Polícia Civil porque os
documentos que atestam a irregularidade da construção e da
ocupação do imóvel não haviam
sido entregues pelo município.
Gaivota é apontado também pelo vereador Sebastião Bispo da Silva, o Alemão, candidato a prefeito
da cidade pelo PSDB, como a pessoa que lhe cedeu alguns escritórios nos fundos do imóvel vizinho
ao prédio: uma casa de esquina
que foi usada como portaria para
a festa e comportou um bar para
os convidados. Na fachada da casa há uma faixa anunciando que
ali é o escritório político de Alemão, mas o vereador diz que não
tem relação com o evento.
Engenheiros e arquitetos do
Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) estiveram na tarde de ontem
vistoriando o prédio e a casa de
esquina. Concluíram que o mezanino tinha uma estrutura comparável apenas às chamadas lajes de
fogo -feitas para isolar o telhado
e suportar somente seu próprio
peso, sem ninguém em cima. Nele, porém, funcionava a pista de
música tecno, onde centenas de
pessoas dançavam.
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