São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2004

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TRAGÉDIA EM GUARULHOS

Prédio não tinha alvará de construção; dono do imóvel e organizador do evento estão desaparecidos

Piso cede, mata 6 jovens e fere 130 em festa

SÍLVIA CORRÊA
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Seis jovens morreram e mais de 130 ficaram feridos em um desabamento ocorrido por volta da 1h30 de ontem, durante uma festa no centro de Guarulhos (Grande São Paulo). O evento era completamente clandestino -o prédio não tinha licença da prefeitura nem para ser construído, muito menos para funcionar.
Havia cerca de mil pessoas no local, segundo relato de sobreviventes. A Polícia Civil fala em 600. A maior parte do público era de estudantes, pois os convites foram vendidos durante a semana em bares vizinhos a universidades, segundo indicações do panfleto de promoção do evento.
O imóvel onde ocorreu o acidente é uma espécie de galpão de cerca de 350 m2 e mais de seis metros de altura. O pé-direito foi aproveitado para a construção de um mezanino sobre todo o andar térreo. Foi ele que desabou.
"O som parou e o chão sumiu. Foi um estrondo: bruuumm. Não se via nada por causa da poeira. E ninguém gritava. Ficou todo mundo atônito", narra a advogada Andréa Batista, 26, que ficou ilhada com cinco amigos na única faixa de mezanino que não desabou, nos fundos do galpão.
O mezanino caiu em forma de V, lançando cerca de 17 toneladas de concreto e ferro sobre os que dançavam no térreo, na pista de axé. Lá estavam os seis jovens que morreram -com idades entre 14 e 25 anos. Eles sofreram traumatismos diversos. Um ferido deve ficar paraplégico.
Chamada Ladies First, a festa era restrita a mulheres das 22h à 0h, período em que ocorreu um show de stip-tease dos dançarinos do "Clube das Mulheres". O acidente ocorreu pouco depois de a entrada dos homens ser liberada, o que dobrou a lotação da casa. Os ingressos custavam R$ 10 e R$ 15.
O evento teria sido organizado por Heric Fabiano Dias e divulgado por Claudio Perereca.
Já a obra do prédio está registrada na Prefeitura de Guarulhos em nome de Wilson Gonçalves, um comerciante conhecido como Wilson Gaivota, proprietário de casas de bingo na cidade.
Até a noite de ontem, nenhum dos três havia sido localizado, mas não eram considerados foragidos pela Polícia Civil porque os documentos que atestam a irregularidade da construção e da ocupação do imóvel não haviam sido entregues pelo município.
Gaivota é apontado também pelo vereador Sebastião Bispo da Silva, o Alemão, candidato a prefeito da cidade pelo PSDB, como a pessoa que lhe cedeu alguns escritórios nos fundos do imóvel vizinho ao prédio: uma casa de esquina que foi usada como portaria para a festa e comportou um bar para os convidados. Na fachada da casa há uma faixa anunciando que ali é o escritório político de Alemão, mas o vereador diz que não tem relação com o evento.
Engenheiros e arquitetos do Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) estiveram na tarde de ontem vistoriando o prédio e a casa de esquina. Concluíram que o mezanino tinha uma estrutura comparável apenas às chamadas lajes de fogo -feitas para isolar o telhado e suportar somente seu próprio peso, sem ninguém em cima. Nele, porém, funcionava a pista de música tecno, onde centenas de pessoas dançavam.


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