São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2004

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TRAGÉDIA EM GUARULHOS

Entre os mortos estão uma estudante de 14 anos e amigos que saíam juntos para "baladas"

Tio de vítima foi convidado para cantar

DA REPORTAGEM LOCAL

O cantor sertanejo Jeremias Francisco de Souza, 38, recebeu um convite por telefone às 16h de anteontem para tocar três músicas na festa Ladies First, ao lado do parceiro Roberto Gomes Amorim, 41. O cachê da dupla, de R$ 500, foi acertado por Jeremias. Mas ele cancelou a apresentação por não ter localizado seu amigo.
Na madrugada de ontem, a dupla recebeu novos telefonemas. A sobrinha de Roberto, Cintya de Almeida Santos, 19, havia morrido no prédio onde eles iriam cantar. "Não estávamos lá, mas também nos incluímos entre os sobreviventes", afirmou Jeremias.
Ela se formaria neste ano no magistério e estava na festa com duas amigas. Ângela Maria Amorim, tia de Cintya, diz que elas estavam em cima e sentiram a construção balançar. Desceram e, próximas da saída, foram atingidas. "Elas não conseguiram correr porque havia fila e a porta era estreita", afirma Amorim. As duas amigas sobreviveram.
Entre os seis mortos da festa, havia ainda a estudante Daniele Rodrigues Pereira, 14, e três amigos que costumavam ir a "baladas" juntos: Nathalia Mendes Fortuna, 20, aluna do terceiro ano do curso de administração, Luana Cristina Peres, 23, que havia acabado de passar no vestibular, e Carlos Ailton Belusci da Conceição, 25, assistente administrativo que trabalhava em um banco.
A irmã de Nathalia, Angélica, 17, também se feriu, foi operada no abdome e estava estável. O funcionário público Gilberto Fortuna, 47, pai delas, prometia processar os responsáveis. "Podia ter perdido toda a minha vida, mas perdi só a metade", afirmou. "Vi minha filha morta embaixo da laje", disse ele, que foi ao lugar após ser avisado por amigas das filhas.
O corretor de seguros Wanderlei Jimenez, 27, conta que eles estavam num grupo de 30 pessoas -mais de metade delas no andar debaixo na hora do desabamento.
Ele saiu para pegar uma cerveja do lado de fora e, quando voltava, deparou com os escombros. Enquanto procurava a namorada -"soube depois que ela tinha sido levada ao hospital"-, viu um jovem preso por uma coluna. "Estava escuro, ele não conseguia ver nada. Deixei meu celular com ele, porque tem uma luz, e pensei que ele poderia se despedir de alguém", afirmou Jimenez, que soube ontem que esse jovem estava no Beneficência Portuguesa.
O sexto morto, Valmir Teles da Silva Araújo, 19, começaria nesta semana a trabalhar como auxiliar de serviços gerais numa empresa de panetones.


Colaborou o "Agora"

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