São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2005

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MARIA INÊS DOLCI

Gás hilariante e poucas luzes

O final de agosto não trouxe boas notícias para o consumidor brasileiro. Não bastassem os fatos da política, recebemos duas tristes e vergonhosas notícias: vamos pagar mais pela energia elétrica, porque estamos insatisfeitos com o serviço prestado pelas concessionárias, e caímos no golpe do carro movido a Gás Natural Veicular (GNV).
Explico: a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) fez uma pesquisa para detectar o índice de satisfação do consumidor. Essa pesquisa, o Índice Aneel de Satisfação do Consumidor (Iasc) de 2004, deveria determinar um reajuste menor nas tarifas de energia. Mas (oh, que surpresa!) a Aneel percebeu que houvera erro na pesquisa, e decidiu utilizar os indicadores de pesquisa de 2003. Que (surpresa ainda maior!) determinaria um reajuste superior ao referente ao de 2004.
Nada mal para as concessionárias de energia, não?
Mas tem mais. Quem se lembra da campanha "Carro a álcool. Você ainda vai ter um.". Pois é, deu no que deu. Quem comprou carro a álcool, atraído pelo menor preço frente à gasolina, entrou pelo cano. Agora, depois de promover e estimular a fabricação de carros bicombustíveis movidos a gasolina e álcool, ou gasolina e gás, o governo voltou atrás.
Como ocorreu com o álcool, que ficou em segundo plano quando cessaram os efeitos das primeiras crises do petróleo, o aumento do consumo do GNV assustou nossas autoridades. A justificativa da Petrobras é que o consumo tem aumentado 20% ao ano, e que não há GNV suficiente para suprir essa demanda crescente.
Esse temor foi agravado pelo movimento de cocaleiros, mineiros e camponeses bolivianos pela nacionalização das reservas de gás daquele país. Isso depois que a Petrobrás investiu mais de US$ 300 milhões no gasoduto Bolívia-Brasil.
Ou seja: o governo brasileiro incentivou o uso de GNV, que, dentre outras vantagens, polui bem menos do que a gasolina. Os brasileiros converteram seus automóveis para rodar com GNV. Ou compraram carros movidos a esse combustível. E foram brindados com a informação de que o gás ficará mais caro, para desestimular seu consumo.
Pois é, caímos novamente na esparrela do combustível mais barato e menos poluente. Do álcool, fomos para o GNV. E mais uma vez fica claro que a opção preferencial do governo federal é pela gasolina, embora o petróleo seja um recurso não-renovável, poluente e seu barril bata, atualmente, todos os recordes de preço.
É isso o que se oferece aos consumidores brasileiros: energia elétrica mais cara, porque demonstramos insatisfação com o serviço prestado pelas concessionárias, como se fosse um prêmio para quem não trabalhou com a qualidade esperada. E uma "puxada de tapete" para quem acreditou (como nós somos propensos a acreditar em promessas, não?) no tal carro movido a gás.
Esse "gás hilariante" não nos faz rir. E as "poucas luzes" da Aneel não nos indicam uma saída no fim do túnel. Preparemos o bolso.


E-mail - midolci@yahoo.com.br

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