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MARIA INÊS DOLCI
Gás hilariante e poucas luzes
O final de agosto não trouxe boas notícias para o consumidor brasileiro. Não bastassem os fatos da política, recebemos duas tristes e vergonhosas
notícias: vamos pagar mais pela
energia elétrica, porque estamos
insatisfeitos com o serviço prestado pelas concessionárias, e caímos no golpe do carro movido a
Gás Natural Veicular (GNV).
Explico: a Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) fez uma
pesquisa para detectar o índice
de satisfação do consumidor. Essa pesquisa, o Índice Aneel de
Satisfação do Consumidor (Iasc)
de 2004, deveria determinar um
reajuste menor nas tarifas de
energia. Mas (oh, que surpresa!)
a Aneel percebeu que houvera
erro na pesquisa, e decidiu utilizar os indicadores de pesquisa de
2003. Que (surpresa ainda
maior!) determinaria um reajuste superior ao referente ao
de 2004.
Nada mal para as concessionárias de energia, não?
Mas tem mais. Quem se lembra da campanha "Carro a álcool. Você ainda vai ter um.".
Pois é, deu no que deu. Quem
comprou carro a álcool, atraído
pelo menor preço frente à gasolina, entrou pelo cano. Agora, depois de promover e estimular a
fabricação de carros bicombustíveis movidos a gasolina e álcool,
ou gasolina e gás, o governo voltou atrás.
Como ocorreu com o álcool,
que ficou em segundo plano
quando cessaram os efeitos das
primeiras crises do petróleo, o
aumento do consumo do GNV
assustou nossas autoridades. A
justificativa da Petrobras é que o
consumo tem aumentado 20%
ao ano, e que não há GNV suficiente para suprir essa demanda
crescente.
Esse temor foi agravado pelo
movimento de cocaleiros, mineiros e camponeses bolivianos pela
nacionalização das reservas de
gás daquele país. Isso depois que
a Petrobrás investiu mais de US$
300 milhões no gasoduto Bolívia-Brasil.
Ou seja: o governo brasileiro
incentivou o uso de GNV, que,
dentre outras vantagens, polui
bem menos do que a gasolina. Os
brasileiros converteram seus automóveis para rodar com GNV.
Ou compraram carros movidos
a esse combustível. E foram brindados com a informação de que
o gás ficará mais caro, para desestimular seu consumo.
Pois é, caímos novamente na
esparrela do combustível mais
barato e menos poluente. Do álcool, fomos para o GNV. E mais
uma vez fica claro que a opção
preferencial do governo federal é
pela gasolina, embora o petróleo
seja um recurso não-renovável,
poluente e seu barril bata, atualmente, todos os recordes de preço.
É isso o que se oferece aos consumidores brasileiros: energia elétrica mais cara, porque demonstramos insatisfação com o serviço
prestado pelas concessionárias,
como se fosse um prêmio para
quem não trabalhou com a qualidade esperada. E uma "puxada
de tapete" para quem acreditou
(como nós somos propensos a
acreditar em promessas, não?) no
tal carro movido a gás.
Esse "gás hilariante" não nos
faz rir. E as "poucas luzes" da
Aneel não nos indicam uma saída no fim do túnel. Preparemos o
bolso.
E-mail - midolci@yahoo.com.br
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