São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2008

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Médico não entende "fúria contra fumantes"

Ex-presidente da regional de SP da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica está indignado com projeto que proíbe fumo em lugar fechado

"Nós agora estamos em uma cidade onde não se fuma, não se joga, não se transa, não se bebe", diz o médico Ithamar Stocchero

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O médico Ithamar Stocchero, 57, não se arrepende de nenhum dos cerca de 438 mil cigarros que fumou desde os 18 anos. Ao contrário: é defensor militante do tabagismo. Ex-presidente da regional de São Paulo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Stocchero chegou a integrar uma associação chamada Libertas, fundada em 1999 para defender os direitos dos fumantes (e outras "minorias"). A associação se dissolveu depois de sete anos, por falta de um administrador.
Agora, mais do que nunca, o médico está indignado por causa do projeto de lei que o governador José Serra encaminhou à Assembléia Legislativa de SP propondo a proibição do cigarro em qualquer ambiente coletivo fechado da cidade.
"Não consigo entender essa fúria contra [estimados] 30% de fumantes na cidade. Desde que um maluco chamado Paulo Maluf trouxe essa história dos EUA, eu luto por direitos iguais.
Agora é o Serra. O que ele quer?
Aparecer? Eleger-se com 70% de não-fumantes?", pergunta.
"Nós agora estamos em uma cidade onde não se fuma, não se joga, não se transa, não se bebe.
Em breve seremos todos anjinhos tocando harpas", diz ele, referindo-se também ao fechamento dos bingos, às "ofensivas contra as casas de garotas de programa" e ao "radicalismo da lei seca". O médico dá a entrevista a caminho do Rio, para onde viajou ontem de carro: "As companhias aéreas perderam um cliente de alto poder aquisitivo. E o pior é que todo mundo sabe que tem muito piloto que fuma na cabine".

 

FOLHA - O que o sr. defende?
ITHAMAR STOCCHERO
- Fico impressionado com a interferência do Estado na vida do cidadão. Não sou a favor de fumar em lugar de não-fumantes.
Mas, se existem 30% de fumantes, por que não permitir que se fume em um terço dos espaços públicos?

FOLHA - E a fumaça?
STOCCHERO
- O homem esteve na Lua, não deve ser difícil conseguir um sistema de isolamento das áreas de fumantes. O que não dá é para parte da população, ainda que seja a minoria, ser submetida ao resto.

FOLHA - Não acha que a minoria, quando se fala em coletividade, tem mesmo de estar submetida ao interesse da maior parte das pessoas?
STOCCHERO
- Acho que dá pra dividir. Não ser tão draconiano.
Por que não preservar lugares para fumantes?

FOLHA - Como o sr. faz para driblar a proibição que já existe?
STOCCHERO
- Não faço mais compra em shopping, só na Oscar Freire, não viajo de avião, nem freqüento mais uma pizzaria chamada 1900, que veiculou um anúncio em que avisava: "Aqui é um ambiente livre de cigarro". Agora, se eu não vou a lugares em que não se fuma, por que impedir a opção de quem quiser abrir um restaurante só para fumantes? Não consigo entender o totalitarismo. Daqui a pouco, serei obrigado a fazer o que eu não quero.

FOLHA - O cigarro não faz mal para o sr.?
STOCCHERO
- Nunca usei o meu plano de saúde. Nem tomo antidepressivo. Não estou dizendo para todo mundo fumar, apenas para não interferirem nas escolhas dos outros. O [nadador] Michael Phelps bateu todos os recordes e é punido porque fez comercial de cereal, que tem açúcar, e açúcar é prejudicial... Onde é que vamos parar? O pior é que ninguém vai te dar 40 anos outra vez. Isso tudo eles fazem para você ter qualidade de vida aos 90, 100. E agora, com tanta saúde, a população mundial vai explodir.


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