São Paulo, domingo, 30 de agosto de 1998

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Dona-de-casa desconfia, mas compra de carrocinha em SP

Patrícia Bueno recorre ao leite clandestino quando não tem dinheiro da Reportagem Local

Há dias em que a dona-de-casa Patrícia Bueno não tem R$ 0,70 para comprar um litro de leite pasteurizado. Separada e mãe de duas crianças, vive na periferia de São José dos Campos (SP).
Quando o dinheiro fica curto, recorre à "carrocinha do seu Renato". "Ele me entrega um litro por R$ 0,80. É mais caro, só que posso pagar fiado."
O produto chega cru, sem refrigeração, e Patrícia desconfia. "Dá um pouco de receio. Dizem que há perigo de doença."
Para "proteger os meninos", ferve o leite duas vezes. "E ainda jogo uma pitada de sal. Não sei se faz diferença, mas me ensinaram assim."
"Seu Renato" é apenas o atravessador. Embolsa R$ 0,35 de cada litro que vende. O resto vai para o dono das vacas, que também mora na cidade e prefere não se identificar.
"Todo mundo me conhece. Não preciso dar meu nome para jornal nenhum."
Se o conhecem, então por que a fiscalização não o impede de vender o leite?
"Porque estamos no Brasil. E, aqui, o pequeno produtor só sobrevive por baixo do pano. O prefeito sabe disso, o governador e o presidente também. Quero ver quem vai ter coragem de impedir um cristão de trabalhar." (AA)



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