São Paulo, domingo, 30 de agosto de 1998

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EDUCAÇÃO
Exame Nacional do Ensino Médio vai enfatizar habilidades adquiridas na escola em vez de acúmulo de informações
MEC testa hoje o vestibular do século 21

FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local

O MEC (Ministério da Educação) realiza hoje à tarde a primeira edição de uma avaliação que, se cumprir o que promete, deverá se tornar a principal alternativa do país no século 21 ao já tradicional vestibular.
O Exame Nacional do Ensino Médio, ou simplesmente Enem, segue a tendência internacional de se avaliar não mais as informações que uma pessoa conseguiu acumular na escola, mas as habilidades e competências que adquiriu.
A prova, que terá a duração de quatro horas, será composta de 63 questões objetivas (múltipla escolha) e uma dissertação.
"Não tem perguntas do tipo "O que é?' ou "Qual é?', é tudo proposição de problemas", afirma a coordenadora geral do Enem, Maria Inês Fini. "Não tem divisão por disciplina", acrescenta.
O ideal de prova que Fini imagina é indicativo do que os 157 mil estudantes inscritos para o Enem deverão encontrar a partir das 13h: "Espero evoluir para uma prova com tema único, por exemplo, em torno da água".
"É um tema que amarra poesia, literatura, biologia, física, química, matemática. São exatamente esses temas que "transversam' toda a nossa vida. Porque a natureza se faz dessa forma transversal", afirma.

Sinalização
O exame de hoje é um marco para várias áreas da educação brasileira. As escolas de ensino médio (até 1996 chamado pela lei de 2º grau) e mesmo de ensino fundamental (antigo 1º grau) afirmam que o Enem será uma sinalização daquilo que o MEC espera que elas ensinem.
A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro já reservou 20% de suas vagas de 1999 para candidatos bem colocados no exame. Outras universidades querem ver a prova para decidir se seguem o mesmo caminho.
Os conselhos estaduais e municipais de Educação esperam o Enem para começar a regulamentar as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, editadas este ano pelo Conselho Nacional de Educação.
Tudo isso é decorrência da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB, aprovada pelo Congresso em dezembro de 1996. A LDB anterior era de 1961.
Foi essa nova lei que acabou com a determinação de que as faculdades e universidades só poderiam selecionar candidatos por meio de uma prova de vestibular.
Muitas instituições de ensino superior já começam a testar formas alternativas de seleção -a experiência da Universidade de Brasília é modelar (leia ao lado). No setor privado, onde a oferta de vagas anda bem superior à demanda, há faculdades que já não fazem mais nenhum tipo de avaliação.

Mau começo
Apesar da responsabilidade que recai sobre o Enem -que, além de tornar concretas as novas exigências do MEC, é a primeira avaliação nacional desse gênero no país-, o exame teve um começo falho.
A divulgação quase não ocorreu -o Colégio Nossa Senhora das Graças, de São Paulo, por exemplo, recebeu os cartazes após o encerramento das inscrições.
Muitas agências do Banco do Brasil, onde deveriam ser feitas as inscrições, nem sequer ficaram sabendo do que se tratava.
O resultado é que, nessa primeira edição, apenas 10% do público estudantil potencial fará a prova (o país tem cerca de 1,5 milhão de alunos na 3ª série do ensino médio). Isso sem contar que o exame também se dirige a trabalhadores que querem demonstrar seu nível de conhecimento na hora de disputar um emprego.



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