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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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"Ele disse que não queria morrer"

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Os depoimentos do preso Fabiano de Oliveira Costa obtidos pela Folha detalham as torturas que teriam sido sofridas pelo comerciante Chan Kim Chang em 27 de agosto, um dia após chegar ao presídio Ary Franco.
Segundo Costa, que já cumpriu sete dos 14 anos de prisão por assalto a mão armada e tráfico de drogas, o agente penitenciário Éverson Motta levou à sala de inspetoria Chan e um preso australiano. Chan teria manchas roxas nos cotovelos e um braço inchado, que Motta queria fotografar.
Na sala de disciplina, onde Costa diz que estavam o agente Ricardo Sarmento Alves e dois presos de confiança, Chan não quis ser fotografado. Motta pegou na sala de inspetoria um bastão de madeira, semelhante a uma enxada sem a ponta cortante, batizada pelos agentes de "direitos humanos". Ao voltar para a sala onde estava Chan, disse: "Agora vamos ver se ele tira ou não as fotos". A porta foi fechada e "pareceu que desabava o mundo", disse Costa.
Quando a porta foi aberta, Chan estava no chão, segundo a testemunha. Tentou se levantar segurando o pé de uma mesa, que virou, fazendo com que ele caísse para trás e batesse a cabeça numa gaveta de metal. "Começou a esguichar sangue. [Chan] Passava a mão na cabeça, nas paredes e nos arquivos. Em seu desespero, passou sangue no rosto do agente Sarmento, que saiu da sala", diz Costa no depoimento.
Segundo a testemunha, Motta chutou Chan "várias vezes e fortemente", empurrando-o para fora da sala de disciplina. A um preso que passava, Chan teria dito que estava com frio e que não queria morrer. O comerciante tentou engatinhar de volta para a sala de disciplina, mas foi impedido com uma joelhada no peito.
Chan se agarrou a uma estante. O agente Ricardo Duarte Pires Valério chegou com as algemas. Motta, segundo Costa, colocou um joelho sobre o peito de Chan, chutou a mão do preso para que largasse a estante e ainda pisou duas vezes em sua cabeça. Chan passou a sangrar pelos ouvidos.
Segundo o depoimento, Motta e Valério arrastaram Chan pelos pés até a cela de triagem. Os agentes Carlos Alberto Rodrigues e Carlos Luiz Corrêa assistiram à cena e nada fizeram. Ainda irritado, Motta pegou o "direitos humanos" e bateu na grade, atingindo Chan no que Costa define como "o golpe de misericórdia".


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