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INFÂNCIA
Testemunhas que prestaram depoimento sobre o caso teriam sido espancadas por monitores, segundo o Ministério Público
Promotoria apura abuso sexual na Febem
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Promotores da Infância e Juventude de São Paulo investigam denúncia de abuso sexual e casos de
tortura contra internos da unidade 31 da Febem de Franco da Rocha, na Grande São Paulo.
Segundo o Ministério Público, é
a primeira vez que se apura um
caso em que um funcionário da
entidade é acusado de abusar sexualmente de adolescente.
Os dois crimes envolvem os
mesmos personagens: a vítima do
suposto abuso e as testemunhas,
que, depois de ouvidas pela Promotoria, teriam apanhado de monitores de Franco da Rocha ao retornar do fórum para a unidade.
Os seis adolescentes envolvidos
nessas denúncias passaram ontem à tarde por exame médico
com legista, na capital. Ao menos
três tinham marcas recentes de
espancamento, segundo a perícia,
e um quarto precisará passar por
uma bateria de exames por causa
das pancadas -chutes, diz ele-
que recebeu no órgão genital. O
rapaz tem dificuldade para andar.
Não é o primeiro incidente de
violência dentro da Febem de
Franco da Rocha. Os promotores
da Infância e Juventude de Capital
-Wilson Tafner, Sueli Riviera e
Ebenezer Soares- investigam
desde setembro uma sessão coletiva de espancamento na mesma
unidade, em que um grupo de 30
funcionários teria espancado
mais de 40 internos.
Um dos garotos agredidos na
época, conforme perícia médica,
estava com o braço fraturado, resultado de uma agressão que disse
ter sofrido em julho deste ano.
Segredo
O suposto abuso sexual, caracterizado legalmente como atentado violento ao pudor, teria ocorrido durante os jogos da Copa do
Mundo, em julho passado, na ala
"F", onde há 45 garotos distribuídos em quatro celas. Foi mantido
em segredo desde então.
O interno F., 18, disse em depoimento que precisou levantar-se
da cama, de madrugada, para ir
ao banheiro -dentro da cela.
Um funcionário, descrito pelas
testemunhas como um dos mais
violentos, teria visto o rapaz acordado quando passava no corredor carregando uma lanterna.
Esse monitor teria chamado o
adolescente e batido a cabeça dele
várias vezes contra a grade.
Outros dois internos disseram
ter presenciado a agressão e visto
que o monitor obrigou F. a fazer
sexo oral.
"Não contei o que aconteceu
para a minha família porque estava com vergonha", afirmou F. à
Folha.
Denúncia
No último dia 15, porém, o adolescente aproveitou uma visita
dos promotores à unidade para
fazer a denúncia de abuso.
Em 24 de outubro, quinta-feira
passada, F. e um outro interno foram de Franco da Rocha para a
capital prestar depoimento na
Vara da Infância e Juventude.
"Quando a gente voltou, à noite,
eles pegaram a gente na triagem
[espécie de cela isolada]", afirmou K, 19, que teve ferimentos no
órgão genital.
No dia seguinte, quando outras
duas testemunhas foram depor
sobre o suposto abuso, houve
uma segunda sessão de espancamento na ala "F", afirmaram os
adolescentes à promotoria.
A Promotoria tenta agora identificar os funcionários envolvidos
nas agressões. Há pelo menos seis
apelidos de monitores nos depoimentos que eles prestaram.
Segundo o promotor Wilson
Tafner, os adolescentes disseram
ter sido obrigados a passar por
banhos gelados e a usar pomadas
para tratar as manchas do corpo,
em uma tentativa de esconder o
que teria havido na unidade.
Há cerca de 60 procedimentos
de investigação hoje na Promotoria da Infância e Juventude da capital por causa de denúncias de
agressões nas unidades da Febem
de Franco da Rocha.
Identidades
Os nomes dos internos agredidos não foram revelados por
questão de segurança, a pedido
do Ministério Público. Os apelidos dos monitores investigados
por agressão também estão sendo
mantidos em sigilo para não atrapalhar a investigação.
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