São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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DANUZA LEÃO

Misoginia

Na semana passada fui jantar com um amigo num restaurante elegante do Rio, e tivemos que esperar no bar até que vagasse uma mesa. Fiquei, então, prestando atenção: havia três mesas redondas, cada uma delas com seis homens. Seis; todos bonitos, elegantes, alguns famosos e cobiçados (nenhum gay).
Um jantar de seis, num lugar em que é preciso reservar mesa, não se combina meia hora antes, tipo "está fazendo o quê? Vamos comer alguma coisa por aí?".
Não. Um jantar de seis é organizado com alguma antecedência, vários telefonemas são dados para saber se todos estão livres, se estão de acordo quanto ao local, marcam a hora, um deles telefona para fazer a reserva -é uma produção, praticamente.
Eu e meu amigo tomamos dois drinques no bar, com toda a calma; quando vagou uma mesa, nos sentamos, houve o momento -longo- de escolher o vinho, pedimos uma entrada, o prato principal, sobremesa, depois veio o café, a conta, e fomos embora. As mesas continuavam animadíssimas, os rapazes conversando e bebendo. Voltei para casa pensando no assunto e fui ao dicionário buscar a palavra na qual estava pensando, para ver se ela estava certa: estava. Existe um tipo de homem que prefere a companhia de amigos a estar com uma mulher; são os chamados misóginos.
Segundo o dicionário, misógino é aquele que tem aversão a mulher. Talvez aversão seja um exagero, mas que eles -nem todos, nem todos- estão preferindo sair entre eles, viajar entre eles, conversar entre eles, sem uma só mulher por perto, é um fato incontestável. Como tenho muitos amigos homens, comecei a fazer uma pesquisa básica para saber o que está acontecendo e obtive vários tipos de resposta; algumas bastante francas, outras nem tanto assim.
Um deles se assustou e disse que não é seu caso; que tem várias amigas e adora sair com elas. Amigas, tipo amigonas. Com elas podem falar do que querem, não são censurados se fizerem um comentário sobre a gata da mesa ao lado, se disserem que não têm paciência para namorar. Outros foram mais claros: quando saem para jantar, tipo três casais, as mulheres implicam entre si, uma diz que a outra estava dando bola, que aquele decote é coisa de piranha; na ida para casa vão falando mal das duas outras, que o casal tal não está tão bem assim, e a ladainha vai até a hora de dormir. Fora, é claro, a complicação na hora de escolher o que comer: isso engorda, sobremesa nem pensar, beber nem por hipótese, pois têm ginástica na manhã seguinte. Por tudo isso, preferem sair com os amigos. Alguns disseram que viajar com mulher nem pensar, que elas só pensam em comprar e que não têm assunto. Já quando estão entre eles, a conversa rola solta, e às vezes falam até de mulher -mas do jeito que eles gostam.
Enquanto isso, elas estão em casa, sem ter o que fazer, repetindo o mesmo refrão "não tem homem na praça". Ter tem, só que eles preferem sair sem elas. Durma-se com um barulho desses.
Lembro de um tempo em que os homens faziam qualquer coisa para sair com uma mulher e diziam galanteios nas mesas de bar, no mínimo para chegar onde queriam: na cama. Se não conseguissem, continuavam tentando, com a mesma ou com outra, e achavam um prazer estar com uma mulher; um prazer acima de todos os outros.
Pobres das mulheres de hoje em dia. As mais modernas, quando estão sozinhas, saem em grupo, mas só têm um assunto: homem. E ficam olhando para as mesas em volta para ver se pinta um olhar, uma paquera, uma possibilidade qualquer. Mas há séculos um homem não manda um torpedo para a mulher da outra mesa; e se algum mandar -e colar-, que tudo aconteça rápido, de preferência sem muita conversa.
Por isso, minha amiga, antes de se apaixonar de novo, repare bem se seu objeto de desejo curte estar com uma mulher ou se passa a vida em turmas de homens.
Porque se ele for um misógino, você pode até se casar, o casamento pode até durar, mas estará condenada a passar a vida com uma aliança no dedo mas, a maior parte do tempo, só.


E-mail - danuza.leao@uol.com.br


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