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DANUZA LEÃO
Misoginia
Na semana passada fui jantar com um amigo num restaurante elegante do Rio, e tivemos que esperar no bar até que
vagasse uma mesa. Fiquei, então,
prestando atenção: havia três mesas redondas, cada uma delas
com seis homens. Seis; todos bonitos, elegantes, alguns famosos e
cobiçados (nenhum gay).
Um jantar de seis, num lugar
em que é preciso reservar mesa,
não se combina meia hora antes,
tipo "está fazendo o quê? Vamos
comer alguma coisa por aí?".
Não. Um jantar de seis é organizado com alguma antecedência,
vários telefonemas são dados para saber se todos estão livres, se estão de acordo quanto ao local,
marcam a hora, um deles telefona
para fazer a reserva -é uma produção, praticamente.
Eu e meu amigo tomamos dois
drinques no bar, com toda a calma; quando vagou uma mesa,
nos sentamos, houve o momento
-longo- de escolher o vinho,
pedimos uma entrada, o prato
principal, sobremesa, depois veio
o café, a conta, e fomos embora.
As mesas continuavam animadíssimas, os rapazes conversando
e bebendo. Voltei para casa pensando no assunto e fui ao dicionário buscar a palavra na qual
estava pensando, para ver se ela
estava certa: estava. Existe um tipo de homem que prefere a companhia de amigos a estar com
uma mulher; são os chamados
misóginos.
Segundo o dicionário, misógino
é aquele que tem aversão a mulher. Talvez aversão seja um exagero, mas que eles -nem todos,
nem todos- estão preferindo sair
entre eles, viajar entre eles, conversar entre eles, sem uma só mulher por perto, é um fato incontestável. Como tenho muitos amigos
homens, comecei a fazer uma pesquisa básica para saber o que está
acontecendo e obtive vários tipos
de resposta; algumas bastante
francas, outras nem tanto assim.
Um deles se assustou e disse que
não é seu caso; que tem várias
amigas e adora sair com elas.
Amigas, tipo amigonas. Com elas
podem falar do que querem, não
são censurados se fizerem um comentário sobre a gata da mesa ao
lado, se disserem que não têm paciência para namorar. Outros foram mais claros: quando saem
para jantar, tipo três casais, as
mulheres implicam entre si, uma
diz que a outra estava dando bola, que aquele decote é coisa de piranha; na ida para casa vão falando mal das duas outras, que o
casal tal não está tão bem assim, e
a ladainha vai até a hora de dormir. Fora, é claro, a complicação
na hora de escolher o que comer:
isso engorda, sobremesa nem
pensar, beber nem por hipótese,
pois têm ginástica na manhã seguinte. Por tudo isso, preferem
sair com os amigos. Alguns disseram que viajar com mulher nem
pensar, que elas só pensam em
comprar e que não têm assunto.
Já quando estão entre eles, a conversa rola solta, e às vezes falam
até de mulher -mas do jeito que
eles gostam.
Enquanto isso, elas estão em casa, sem ter o que fazer, repetindo
o mesmo refrão "não tem homem
na praça". Ter tem, só que eles
preferem sair sem elas. Durma-se
com um barulho desses.
Lembro de um tempo em que os
homens faziam qualquer coisa
para sair com uma mulher e diziam galanteios nas mesas de bar,
no mínimo para chegar onde
queriam: na cama. Se não conseguissem, continuavam tentando,
com a mesma ou com outra, e
achavam um prazer estar com
uma mulher; um prazer acima de
todos os outros.
Pobres das mulheres de hoje em
dia. As mais modernas, quando
estão sozinhas, saem em grupo,
mas só têm um assunto: homem.
E ficam olhando para as mesas
em volta para ver se pinta um
olhar, uma paquera, uma possibilidade qualquer. Mas há séculos
um homem não manda um
torpedo para a mulher da outra
mesa; e se algum mandar -e
colar-, que tudo aconteça rápido, de preferência sem muita
conversa.
Por isso, minha amiga, antes de
se apaixonar de novo, repare bem
se seu objeto de desejo curte estar
com uma mulher ou se passa a vida em turmas de homens.
Porque se ele for um misógino,
você pode até se casar, o casamento pode até durar, mas estará condenada a passar a vida com uma
aliança no dedo mas, a maior
parte do tempo, só.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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