São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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Excêntrico, Bem-Te-Vi exibia armas douradas

DA SUCURSAL DO RIO

Chefe do tráfico de drogas da favela da Rocinha (zona sul do Rio), Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, 29, era o traficante mais famoso do Rio.
Bem-Te-Vi gostava de ostentar. Decorava de dourado o armamento da sua quadrilha. Ele fazia grandes festas na comunidade - na do seu último aniversário, em julho, chegou a fechar o túnel Zuzu Angel, que liga a zona sul ao bairro de São Conrado, para evitar operação da polícia.
Nascido em Varjota, no Ceará, Bem-Te-Vi começou a controlar o tráfico na favela mais rentável do Rio no ano passado, após a morte do traficante Luciano Barbosa da Silva, o Lulu. Ele se associou à facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos).
Em agosto, a fama do traficante aumentou. Conversas gravadas com autorização da Justiça revelaram uma proximidade de Bem-Te-Vi com famosos jogadores de futebol do Rio.
Em uma delas, falava com o goleiro Júlio César, ex-Flamengo e hoje na Inter de Milão. Dizia que estava com ""saudade" e dizia para o atleta visitá-lo na favela. Em outra, o jogador contava ter presenciado um assalto na entrada da Rocinha e que queria avisá-lo, porque sabia que ""a galera do morro não pode pegar nada de ninguém aqui embaixo".
O atacante Romário, do Vasco, admitiu que participou de partida de futebol beneficente com Bem-Te-Vi em 18 de maio deste ano. O traficante jogou no seu time durante dez minutos e, depois, passou para o da Rocinha. Romário disse que foi a única vez que viu Bem-Te-Vi. A polícia considerou satisfatório os depoimentos dos dois jogadores.
De acordo com investigações policiais, Bem-Te-Vi contava com uma tropa de choque de pelo menos 56 pessoas -encarregadas de sua segurança e da defesa da Rocinha contra operações da polícia e ataques de grupos rivais- e cerca de 150 fuzis. E teria condições de reunir 400 homens.
Segundo relatos de lideranças comunitárias, Bem-Te-Vi também tinha um perfil assistencialista, porque ajudava os moradores distribuindo cestas básicas, remédios e brinquedos. Mas outros moradores dizem que muita gente não gostava dele, porque era muito violento e permitia roubos dentro da comunidade.
Com a morte de Bem-Te-Vi, deve assumir o controle do tráfico na favela Orlando José Rodrigues, o Soul, que seria seu cunhado. Moradores temem um racha no comando pelo fato de Soul não ser cria da comunidade.


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