São Paulo, Terça-feira, 30 de Novembro de 1999


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SAÚDE
Participantes foram recrutados em áreas carentes do Rio; instituto testa genéricos para tratar Aids
Fiocruz usa "cobaias" pagas em pesquisa

CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

Cerca de 120 moradores de áreas carentes do Rio receberam R$ 200 cada para participar como voluntários em uma pesquisa que está sendo feita pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para testar a qualidade de medicamentos genéricos para o tratamento da Aids e da tuberculose.
Os voluntários foram recrutados entre os moradores da comunidade de Vila Eugênia -também conhecida como favela do Muquiço, em Guadalupe (zona norte)- e fiéis da Igreja Congregacional de Bento Ribeiro (também na zona norte).
"Eu estava desempregado, e me perguntaram se eu queria participar. Tomei todas as informações, me explicaram tudo, e eu vi que não havia risco. Resolvi participar", disse à Folha Jorge Alan Santos da Silva, 30, morador da Vila Eugênia e também membro da Igreja Congregacional.
De acordo com o coordenador da pesquisa, o médico Eduardo Werneck, e com o presidente da Fiocruz, Elói Garcia, o pagamento foi autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
"Tivemos uma reunião em Brasília com a Vigilância Sanitária e representantes da USP e da Universidade Federal de Pernambuco, que fazem testes semelhantes. Foi combinado na reunião, com o acordo da Vigilância Sanitária, que poderíamos pagar até R$ 200 como ressarcimento de despesas aos voluntários", disse Werneck.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, não é necessária autorização de instância federal para o pagamento a voluntários nesse tipo de pesquisa.
Por meio de sua assessoria, o ministro José Serra afirmou que não tinha conhecimento dos fatos e que irá se informar a respeito.
"Ninguém aceitaria participar do teste se houvesse risco, nem mesmo para receber R$ 200", afirmou o pastor Carlos Roberto Martins dos Santos, 37, que disse ter feito várias reuniões na Igreja Congregacional de Bento Ribeiro para esclarecer os fiéis.
Werneck foi contratado como consultor pelo Farmanguinhos -instituto da Fiocruz responsável pela fabricação de medicamentos- para fazer testes de bioequivalência em remédios produzidos pela instituição.
O teste de bioequivalência é uma exigência da lei dos medicamentos genéricos. Ele é uma espécie de teste de qualidade, feito para determinar se o genérico tem as propriedades do original.
De acordo com o médico, todos os voluntários foram previamente informados sobre qual medicamento receberiam, como seria feito o teste e quais poderiam ser os efeitos colaterais enquanto estivessem sob o efeito dos medicamentos -enjôos, vômitos e, em casos mais sérios, desmaios. Segundo o voluntário Jorge Alan, ninguém sofreu esses efeitos.
A todos foi apresentado um "Termo de Consentimento Pós-Informação", no qual estão especificados detalhes da pesquisa. Só participaram do teste aqueles que assinaram o termo.
Werneck disse que procurou voluntários nas comunidades carentes para "criar um modelo de voluntariado". Os contatos foram feitos por intermédio do farmacêutico Milton Ferreira Filho, diácono da Igreja Congregacional e funcionário da Fiocruz.
Do grupo, pouco mais da metade recebeu doses de zidovudina (o genérico do AZT), de lamivudina e de estavudina, também para o tratamento da Aids.
Segundo Elói Garcia, presidente da Fiocruz, o Ministério da Saúde deve gastar em 2000 cerca de R$ 800 milhões com a compra de medicamentos do coquetel para o tratamento da Aids. Com os genéricos, a economia seria de 40%.


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